Tem a certeza que sabe o que anda a comer?

Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia Shutterstock

Susete Estrela, engenheira alimentar, chama a atenção para a responsabilidade individual na segurança alimentar das nossas cozinhas. No seu livro Sabe o que Anda a Comer?, a autora afirma que «a segurança alimentar vai muito para além de saber lavar as mãos. «Diria que lavar as mãos está para a segurança alimentar como aprender os números de um a dez está para a matemática», acrescenta.

Se antes vivíamos na era da «comida da mãe», como Susete lhe chama, a verdade é que esta tem vindo a ser substituída pela «comida de pacote». Sabia que há 100 anos não havia 80% dos produtos alimentares que estão hoje no mercado? A variedade e o fabrico em série aumentaram consideravelmente e, com isso, a tarefa de escolher devidamente o que cozinhamos ficou mais difícil.

Vivemos num mundo de rótulos e de empresas que estão mais preocupadas com o lucro do que com a saúde dos seus consumidores, por isso, cada pessoa deve procurar a educação devida para saber dizer «não» à oferta prejudicial. É este o propósito do livro.


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Susete Estrela alerta para alguns erros comuns que cometemos diariamente a cozinhar ou no armazenamento dos alimentos que podem trazer consequências negativas para a nossa saúde. Qualquer alimento começa a decompor-se assim que é retirado do solo, do mar, de uma árvore ou animal. Esta decomposição está intimamente ligada à temperatura a que os alimentos estão expostos.

Os descuidos descritos abaixo levam à multiplicidade de micróbios tóxicos para a saúde e são as causas mais frequentes das intoxicações alimentares. Depois de ler este artigo, vai pensar duas vezes antes de arrumar a cozinha à pressa ou descongelar comida no microondas.

COZINHAR COM MUITA ANTECEDÊNCIA

Esta é das principais razões pela qual os banquetes estão frequentemente associados a intoxicações alimentares. Muitas vezes, os alimentos começam a ser preparados horas antes de serem servidos e são deixados à temperatura ambiente, que é muito superior a 5º C. Este erro tão comum fez com que se começasse a dizer que a preparação com muita antecedência era a «doença dos banquetes».

GUARDAR A COMIDA FORA DO FRIGORÍFICO

Existem apenas três formas de guardar as nossas refeições de forma adequada: muito quentes, muito frias e congeladas. Tudo o resto é prejudicial. O que foi comprado em mercearia deve ser guardado em local fresco e seco e com temperatura inferior a 20º C. É também importante ler as informações dos rótulos.

DEMORAR MUITO TEMPO A ARREFECER A COMIDA

Quanto mais rápido um alimento for do frigorífico para o fogão, melhor. Depois da cozedura, o arrefecimento não pode demorar mais de duas horas. A comida nunca deve ficar no balcão, por mais do que esse tempo. Em casa, para arrefecer mais depressa, podemos utilizar o banho-maria gelado, com cubos de gelo, para garantir que os cozinhados chegaram a uma temperatura máxima de 10º C em tempo útil.

REAQUECER A COMIDA INADEQUADAMENTE

Reaquecer a comida é uma prática que deve ser evitada o mais possível. Caso seja necessário, devemos garantir que toda a nossa comida chega a uma temperatura superior a 82º C. Uma porção de comida só deve ser aquecida uma única vez.

SERVIR COMIDA QUE NÃO ESTÁ BEM COZINHADA

Carnes ainda em sangue ou hambúrgueres mal passados estão fora de questão. Todos os alimentos devem estar cozinhados devidamente. Sushi, ostras e outros alimentos crús são consumidos com a consciência do perigo que acarretam. Daí que a higiene na preparação seja crucial.

DESCONGELAR FRANGO À PRESSA

Chegar a casa e descongelar o frango à pressa em água morna ou no microondas é dos dos erros mais comuns. Esta situação não é considerada segura. Grandes porções de carne ou aves congeladas devem ser devidamente descongeladas e a melhor forma é com tempo, no frigorífico e de forma a garantir que que os líquidos da descongelação não estão em contacto com o produto. Quanto menos águas as bactérias tiverem, mais difícil é a multiplicação.

CONSERVAR A COMIDA MORNA

Conservar a comida morna significa guardá-la mais ou menos à temperatura corporal, ou seja, 37º C. Esta é a temperatura em que praticamente todas as bactérias se multiplicam à velocidade máxima. Os alimentos acabados de cozinhar devem ser mantidos ou muito quentes (acima dos 65º C) ou muito frios (abaixo dos 5ºC).

O LIVRO

Sabe o que anda a comer?
Susete Estrela
Arena
15,50 euros