“Sou tão racista como o meu marido”

Notícias Magazine

Esta semana tenho, finalmente, uma convidada nas entrevistas que nunca fiz. Até agora tinham sido só homens e o Jaime Marta Soares, mas chegou a vez de uma senhora. Comigo tenho a primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump. Olá, Melania. Está tudo bem? Está com aquele olhar de quem está a pensar se pôs ou não moedas no parquímetro da EMEL.
Eu tenho sempre esta expressão quando estou em público. É para fingir que estou a pensar em coisas.

A mim não me engana. Sei bem que a Melania é muito mais do que aquilo que deixa transparecer.
Viu as minhas fotos antigas, toda nua?

Eu?! Não, nem pensar! Quem é que lhe disse isso?! Não me diga que os seus amigos russos foram ao meu histórico da net?! Se fui, foi sem querer. Estava à procura da sua foto, mas vestida com o casaco que usou na visita surpresa a um centro de detenção infantil, junto à fronteira com o México. E, quando vi o casaco, tenho de lhe dizer que fiquei chocado!
Era só um casaco com uma inscrição nas costas: “Eu não quero saber, e tu?”

Mas era da Zara! Ver a Melania com roupa da Zara é um crime! Você não pode andar vestida com roupa que custe menos que cento e cinquenta mil ordenados mínimos. A Melania tem a noção do que representa para os imigrantes ilegais nos EUA?
Medo, espero eu.

O oposto. O sonho. Parecendo que não, a senhora é o exemplo máximo de como um imigrante ilegal pode ter sucesso nos EUA. Provavelmente, há centenas de mulheres jovens, imigrantes ilegais, que arriscam a vida a tentar atravessar a fronteira porque sonham ser uma Melania.
Fale mais baixo que o meu marido pode estar a ouvir.

É a realidade. Tirando a parte de ter de ver o Trump nu de vez em quando, a senhora é um dos maiores incentivos à imigração ilegal. Não fosse o seu tamanho de copa, se eu fosse racista e xenófobo como o seu marido já a tinha recambiado.
Mas isso não é justo. Eu sou tão racista como o meu marido. Por que raio acha que usei um casaco da Zara (fiquei com comichão no pescoço durante uma semana) antes de visitar um centro de detenção de crianças com uma frase daquelas?! “I really don’t care. Do u?”

Bem, na altura pensei que tinha sido o seu marido que de manhã, antes de a senhora sair, tinha pintado aquilo nas costas do casaco sem a Melania saber. Cena de putos, como quando colamos um papel com fita-cola nas costas de um colega com uma piada parva qualquer. Imaginei que, se a sua vista fosse a Treblinka, ele escrevesse: “Não te cheira a gás?”