Texto de Filomena Abreu
Entram esbaforidos. Já sem grande tempo. Não se acanham e pedem ajuda: “Um primo confirmou à última que afinal ia ao jantar. É preciso uma prenda”. Há muitos anos que é assim. “Os homens costumam ser os que mais aparecem para comprar os presentes de Natal que faltam. Ou porque efetivamente se esqueceram de alguém. Ou porque, por algum motivo, há uma urgência e têm de ser eles a resolver, uma vez que as mulheres já estão às voltas com a consoada.”
O relato é de Luísa Vilas Boas, sócia-gerente do Bazar Paris, o paraíso centenário de brinquedos da Baixa portuense. Acontece com os primos, com os tios, com os pais, as mães, as avós, os amigos. Há sempre um embrulho a menos nos dias 23 e 24, mas também há sempre solução. E a aflição encontra o alívio numa boneca, numa caixa de legos, num globo.
O relato de Margarida Alfacinha, gerente da loja A Vida Portuguesa, no Chiado, em Lisboa, é idêntico. “Quem vem à última pede ajuda porque não tem ideia do que quer comprar. Costumam descrever-nos a pessoa a quem vão oferecer a prenda e o valor que pretendem gastar. Desta forma, é mais fácil dar sugestões.” O problema costuma resolver-se entre chocolates, bolachas, artigos de decoração, brinquedos, etc., e o mais comum até é acabarem por levar um cabaz.
Para Helena Veloso, proprietária da Centésima Página, em Braga, as pessoas que recorrem à livraria para adquirir os seus presentes no dia 24 são tão tradicionais como o próprio Natal. “Há quem o faça por hábito. Vão ao Bananeiro beber jeropiga, tomam café n’A Brasileira e vêm aqui comprar os seus presentes.” A ordem pode não ser rigorosamente esta. Contudo, é certo que as portas vão estar abertas para quem queira cumprir o roteiro: “É muito habitual serem 19 horas e aparecer alguém a pedir ajuda para escolher o presente para uma pessoa que ficou esquecida na lista”.
Como não poderia deixar de ser, os livros são o “best seller” desta época. Porém, os clientes sabem que há sempre outras opções, tal como o artesanato de autor, nomeadamente os presépios. Um pouco por todo o país, o comércio tradicional encerra, no dia 24, entre as 18 e as 19 horas. O mesmo acontece com as grandes superfícies comerciais. Até lá, verifique se falhou alguém na lista e bom Natal – a horas.