Como simples garrafas de champô salvam milhares de crianças

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Texto de Pedro Emanuel Santos

Um médico descobriu uma forma simples, eficaz, barata e infalível que permite salvar da morte quase certa crianças e bebés com problemas respiratórios, no Bangladesh.

O esquema é, aparentemente, simples e foi inventado pelo pediatra Mohamod Jobayer Christi, que, cansado de ver tantas crianças morrerem devido à falta de um aparelho básico de suporte de respiração, tentou ele próprio magicar um. A solução está em comuns… garrafas de champô transformadas em improvisados ventiladores, material que não abunda no Bangladesh e cuja falta é causadora de milhares de óbitos por ano de menores diagnosticados com pneumonia e outras doenças pulmonares.

A ideia passa por encher as garrafas com água, uni-las a tubos de apoio feitos em plástico e assim permitir que as crianças, ao respirarem, encontrem reservatórios de ar que lhes vão libertando os pulmões de substâncias nocivas.

“Só na minha primeira noite em que trabalhei vi três crianças morrerem. Fiquei tão sem chão que chorei. A partir de então pensei numa forma de salvar o máximo possível de vidas”, contou à BBC Mohamod Jobayer Christi, que exerce num dos maiores hospitais do Bangladesh, país asiático com cerca do dobro da área terrestre de Portugal, mas com impressionantes 163 milhões de habitantes e uma elevada taxa de mortalidade infantil (31,7%, segundo números do ano passado).

Se a pneumonia não for travada a tempo numa criança pode ser fatal. São desenvolvidas bactérias e vírus que rapidamente ocupam os pulmões e limitam sobremaneira a respiração. Por isso, os ventiladores são essenciais nestas situações, mas não existem em abundância no Bangladesh por serem caros para as bolsas públicas locais. Cada um custa cerca de 13 mil euros, verba inacessível e quase proibitiva por aquelas bandas.

A solução encontrada por Mohamod Jobayer Christi é manifestamente mais em conta e igualmente eficaz, como se de um normal ventilador se tratasse. Além disso, permitiu que o médico publicasse um estudo sobre a matéria numa grande revista de investigação internacional. E que, até, fosse promovido na hierarquia do hospital onde exerce funções.

Mais importante do que tudo, as garrafas de champô já permitiram salvar muitas vidas a crianças que, não fosse o artesanal dispositivo, teriam a morte como destino quase certo. Responsáveis clínicos acreditam que cerca de 600 crianças beneficiaram deste invento.

“Não tenho palavras para expressar a minha satisfação. O meu sonho é ver a taxa de mortalidade provocada pela pneumonia próxima do zero”, expressou Mohamod Jobayer Christi.