Os segredos das festas milionárias organizadas em Portugal

Texto de Ana Tulha

Nave da Estufa Fria, Lisboa. À entrada ouvem-se pássaros, harpas, sussurros de deusas. “Vladimir, Vladimir.” Lá dentro, a brisa (artificial, mas já lá vamos) mistura-se com os aromas da floresta. Rente ao chão há um “low smoke” envolto em luz verde, como se se caminhasse sobre nuvens.

“Vladimir, Vladimir.” Depois, ao longo do extenso jardim em estufa, há todos os pormenores de uma verdadeira Floresta Encantada: uma ninfa a andar de baloiço, cavalos com unicórnios, deusas assentes em candelabros, a servir champanhe de cabeça para baixo, faunos com corpos monumentais a abrir os grandes portões de ferro, uma mestra de cerimónias com uma varinha de onde jorram purpurinas douradas. Há até toalhas de mesa feitas de relva artificial. E globos que guardam a sobremesa e descem à altura da mesa na hora de a servir. “Vladimir, Vladimir.”

Aconteceu há três meses, numa festa de aniversário de um russo (Vladimir, nem mais) que juntou perto de 70 pessoas. Convidados. Se se contabilizar o número de artistas envolvidos no evento, aí os participantes ultrapassam a centena. Já para não falar nos preparativos, que duraram três meses, e na logística: desde a obtenção do material necessário, como as máquinas que geram a brisa artificial e os aromas da floresta, à contratação de todos os protagonistas envolvidos.

O cenário é megalómano, excêntrico, arrancado a um conto de fadas. Mas cada vez mais recorrente. E os protagonistas são, com frequência, estrangeiros endinheirados, que não hesitam em abrir os cordões à bolsa para terem direito a uma festa de sonho (e de luxo, e de extravagância…) em Portugal.

“Há cada vez mais gente de fora a fazer este tipo de eventos no nosso país”, garante João Pestana Dias, da Fadus, empresa criada há 20 anos, responsável pela organização da festa da Floresta Encantada.

Segurança, preço e moda
Explicações não faltam. “Depois da crise, há uns cinco anos, começou a vir muita gente para Portugal e a comprar cá casa. A partir daí, surgem as festas de inauguração [das casas], as festas de aniversário, as festas de casamento. E as festas do nada”, vai desfiando o “general manager” da Fadus.

Mas também há os que vivem no estrangeiro e vêm propositadamente ao nosso país, rodeados de uma farta comitiva de amigos e familiares, para fazer uma festa de arromba. Até porque, neste momento, “Portugal é trendy”. João reforça: “Não é só por causa da Madonna nem da Monica Bellucci. Atualmente, Portugal está mesmo na moda.”

Paulo Magalhães, CEO da PMP, outra empresa líder neste segmento de mercado, aponta mais fatores: “As pessoas querem organizar uma festa e pensam: ‘Onde é que há menos terrorismo? Onde é que não é tão caro?’ A segurança, a estabilidade, o facto de Portugal estar em voga, o preço, as infraestruturas. Tudo conta.”

Também ele anda há uns quantos anos a tratar de alimentar os imaginários dos estrangeiros mais exigentes, muitos deles ligados ao universo empresarial. Recentemente, organizou um evento de larga escala no Campo Pequeno para a maior seguradora de Singapura.

“Eram cerca de 500 pessoas. Criámos um espetáculo todo cantado ao vivo do ‘The Great Show Man’, para dar ênfase aos homens de negócios de Singapura”, explica Paulo Magalhães. Seja para empresas ou festas mais pessoais, há uma regra que prevalece: é preciso rasgar os limites da realidade. “Estas pessoas já estiveram em todo o Mundo, já viram de tudo. E perguntam-nos: ‘O que é que podem fazer de novo?’ É preciso levar a imaginação até ao limite para as surpreender.”

Como? Paulo tem na manga um sem fim de exemplos. “Há pouco tempo, fizemos uma festa de aniversário para um italiano em que até dois jatos havia. No jardim, que era enorme, estava um balão de ar quente com o nome do aniversariante e os dois jatos andavam à volta do balão, deixando rastos de fumo que formavam as iniciais dele. Mas também já tivemos gente do Dubai, a pedir uma festa muito exótica. Tivemos de arranjar iguanas, uma jiboia, um camelo, até um leão. As estrelas da festa eram os animais.” A PMP emprega 15 funcionários e organiza de 30 a 40 eventos por mês.

João Pestana Dias aprimora a descrição do que se pretende: “A ideia é entrar noutra dimensão. Tem de ser como a sensação do primeiro beijo. No fundo, temos de arranjar a melhor maneira de contar histórias e vender sonhos”, acrescenta o responsável pela Fadus. Nem que para isso seja preciso mergulhar no imaginário infantil.

“Fizemos uma festa, também para uns russos, em que alugámos o Palácio da Pena e o Palácio de Seteais, e em que o tema foi a ‘Alice no País das Maravilhas’. Como temos vários designers a trabalhar connosco, criámos um guarda-roupa próprio para os convidados. Foi uma coisa do outro Mundo.”

Os russos, garante João Pestana Dias, são dos que mais olham para Portugal como refúgio perfeito para estes eventos. Mas há outros: “Americanos, chineses, brasileiros.” Paulo Magalhães, da PMP, junta à lista os “espanhóis e os ingleses”. E muitos asiáticos, no geral.

É gente que raramente faz contas aos gastos. João Pestana Dias, da Fadus, abre o livro: “Já organizámos festas para 600 pessoas que custaram perto de um milhão de euros.” Paulo Magalhães, da PMP, fala em valores semelhantes: “O custo de eventos assim pode variar entre os 300 mil euros e um milhão. Estamos a falar de eventos ‘chave na mão’. O preço inclui o aluguer do espaço, o catering, o audiovisual, a segurança, os seguros, os bombeiros, o policiamento, os artistas. Tudo.”

E onde decorrem estas super festas? Opções não faltam. Casas privadas, resorts, palácios, antigos conventos. Ou até locais mais improváveis. “Já transformámos antigas fábricas abandonadas em locais que pareciam estúdios de cinema”, conta João Pestana Dias. Quem disse que o dinheiro não compra contos de fadas?