Sida: estigmas, preconceitos, mitos, recuos e avanços

Mais de 90% das pessoas que vivem com VIH e Sida estão diagnosticadas, mas mais de metade dos casos ainda são detetados numa fase tardia. E ainda há quem pense que o contacto pele com pele é uma forma de contágio. A 1 de dezembro celebra-se o Dia Mundial da Luta Contra a Sida.

Os dados demonstram que Portugal tem vindo a traçar e a trilhar um caminho consistente no combate à infeção VIH e Sida. Números revelados este ano dão conta que 91,7% das pessoas que vivem com VIH estão diagnosticadas, 86,8% das quais a ser tratadas e 90,3% das que estão em tratamento têm carga viral indetetável. Este sábado é o Dia Mundial da Luta Contra a Sida.

Há mais percentagens nacionais: uma taxa de diagnóstico de 12,2% casos por 100 mil habitantes, 71,4% dos novos diagnósticos ocorrem maioritariamente em homens, 50,4% dos novos casos diagnosticados estão na região metropolitana de Lisboa, 53,2% dos novos casos são diagnosticados numa fase tardia. À data do diagnóstico, 23,5% dos doentes têm entre 15 e 25 anos, 47,1% estão na faixa etária dos 30 aos 49 e 28,9% têm 50 ou mais anos. A transmissão por contacto heterossexual mantém-se como a mais frequente, mais precisamente em 60,6% dos casos, seguida da transmissão por relações sexuais entre homens com 36,9%. A transmissão associada ao consumo de drogas por via injetável representa apenas 1,5% dos casos.

No momento do diagnóstico, 47,1% dos doentes têm entre 30 e 49 anos de idade. O contacto heterossexual continua a ser a maior via de transmissão.

“As metas mundiais propostas pela Organização Mundial de Saúde no combate à infeção VIH para 2020 são ambiciosas e Portugal tem feito um excelente trabalho nesse sentido. Pela primeira vez, no nosso país, conseguimos atingir metas fundamentais: mais de 90% dos infetados estão diagnosticados, a esmagadora maioria está em tratamento e com risco de transmissão do vírus muitíssimo baixo. É necessário continuar este bom trabalho, mas, para isso, é preciso aumentar o grau de conhecimento da população sobre este assunto”, refere à NM Frederico Duarte, médico do Serviço de Doenças Infecciosas da Unidade Local de Saúde de Matosinhos.

Há, no entanto, mitos e preconceitos que não desaparecem. Agressões verbais, afastamento social. “Um outro exemplo é o dos familiares que assumem que o simples contacto com a pele de um doente os coloca em risco de desenvolver a doença. A própria questão do relacionamento sexual com um doente com VIH é igualmente um tema que suscita muitas dúvidas, quando, na verdade, um doente sob tratamento eficaz tem um risco praticamente nulo de transmitir a doença”. “A questão da parentalidade é igualmente fonte de muita desinformação, já que ainda é frequente ouvir erradamente que uma mulher infetada não pode procriar por risco de transmissão da doença ao feto”, acrescenta. A mudança de mentalidade ainda está longe do desejável. Ainda há desinformação, crenças mal esclarecidas e transmitidas repetidamente.

Apenas 1,5% dos casos estão associados ao consumo de drogas por via injetável.

Há várias preocupações, portanto. No ano passado, quase metade dos novos casos de infeção VIH apresentava-se numa fase mais avançada e grave da doença. O que não é bom. “Como o sistema imunitário destes utentes está muito debilitado, o risco de desenvolver outras doenças graves é muito elevado, com taxas de mortalidade muito altas”, lembra o médico. Uma forma de contrariar estes números passa por massificar o rastreio nos centros de saúde, nos hospitais, em instituições de apoio comunitário e nas farmácias.

Nos últimos 20 anos, tem havido alterações nos grupos de risco. Houve uma altura em que era frequente a associação da infeção VIH com situações de toxicodependência pela partilha de seringas – hoje este grupo de risco é o menos frequente, correspondendo a apenas 1,5% dos casos. Frederico Duarte adianta que, neste momento, “o risco sexual, por via da não utilização de proteção como o preservativo, é o mais frequente, sendo que a transmissão por contacto heterossexual é maior que a homossexual”.

A falta de proteção, como a não utilização do preservativo, nas relações sexuais é um comportamento de alto risco

“Nos adolescentes e jovens adultos é onde se tem notado um crescimento mais acelerado nos últimos anos, provavelmente consequência da falta de investimento em formação no ensino básico, secundário e superior ou até mesmo na quase total ausência de campanhas de sensibilização eficazes”, sublinha.

Agora há uma nova plataforma de informação dedicada ao VIH para profissionais de saúde e doentes, a VIHDA. A plataforma apresenta, de forma simples e intuitiva, informação rigorosa e cientificamente validada sobre a patologia, incluindo sintomas e fatores de risco, bem como rastreio, diagnóstico e tratamento, além de conselhos úteis e práticos.