São castanhas… mas são verdes

Foto: João Santos/Global Imagens

Dos velhos cartuchos feitos com páginas de jornal ou de lista telefónica aos sacos ecológicos, que dão para pôr as cascas. Até o São Martinho já é amigo do ambiente.

“No Dia de São Martinho, pão, castanhas e vinho.” O provérbio, feito mandamento popular, já tem barbas, mas nunca perde fulgor. E mais do que o pão e o vinho, é o fruto do castanheiro que ganha preponderância nesta fase do ano. Ora em magustos, ora ao virar da esquina, saídas dos fogareiros dos vendedores ambulantes, as castanhas são há muito um ritual incrustado nos dias de outono.

Houve tempos em que eram vendidas enroladas em cartuchos feitos de páginas de listas telefónicas ou de jornais. Mas isso foi noutra vida. Desde logo porque há mais de uma década que, para evitar as tintas tóxicas, potencialmente perigosas para a saúde, os velhos cartuchos foram riscados do mapa. Culpa da ASAE. E de uma lei que dita que só pode ser usado “papel ou outro material que ainda não tenha sido utilizado e que não contenha desenhos, pinturas ou dizeres impressos ou escritos na parte interior”.

Depois, viriam as preocupações ambientais. Hoje, vendedor de castanhas que se preze fá-las acompanhar de um saco de papel, com duplo compartimento, para se porem as cascas. Evita-se assim a tentação perigosa de as deitar para o chão à medida que se desbarata o saco, criando um verdadeiro rasto de vestígios que em nada beneficia o ambiente. “Há dois ou três anos que todos usamos estes saquinhos”, garantem-nos os vendedores, nas ruas do Porto.

E porque é que falamos no verão de São Martinho? Diz-se que, em 337, numa noite de tempestade, um cavaleiro chamado Martinho tentava regressar a casa quando foi travado por um mendigo, que lhe pediu uma esmola. Sem dinheiro nos bolsos, mas com altruísmo para dar e vender, Martinho terá pegado na espada que trazia e cortado o manto que o cobria ao meio, para o dividir com o sem-abrigo.

Aí, qual oferenda dos céus, a tempestade terá parado, dando lugar ao sol. Um pretenso milagre que ficaria eternizado como verão de São Martinho. E São Martinho que é São Martinho… faz-se com castanhas. Sem esquecer o ambiente.