Ronaldo: “A ele os milhões, a nós pontapés nos c…”

REUTERS/Jorge Silva

Junto à fábrica da Fiat em Pomigliano d’Arco, Nápoles, o mal-estar salta à vista em forma de cartazes. Muitos têm o rosto de Cristiano Ronaldo. O português, visto como uma espécie de deus por adeptos de futebol, é por aqui “persona non grata”. Mesmo que pouca culpa tenha.

Essa, apontam os trabalhadores, é do grupo Fiat Chrysler Automóveis, que acusam de lhes proporcionar condições miseráveis enquanto injeta milhões na contratação de que todos falam: Cristiano Ronaldo, máquina de golos e colecionador de prémios no universo futebolístico, prepara-se, aos 33 anos, para prosseguir carreira na Juventus, depois de nove temporadas a dizimar recordes no Real Madrid.

Para isso, a equipa de Turim teve de abrir os cordões à bolsa. E de que maneira. Cem milhões de euros, parte dos quais suportados por um dos grandes patrocinadores do clube: a Fiat. Daí que o descontentamento não tenha tardado a apoderar-se dos trabalhadores da fábrica automóvel.

“É inaceitável que os operários continuem a fazer grandes esforços económicos, enquanto a empresa gasta centenas de milhões de euros na compra de um jogador”, defende o sindicato em comunicado.

“Dizem-nos que os tempos são duros, que temos de recorrer à segurança social, enquanto se espera o lançamento de novos modelos que nunca chegam. E à medida que os trabalhadores e as famílias apertam cada vez mais os cintos, a empresa decide investir imenso dinheiro num único ser humano. Isto é justo? É normal que uma pessoa ganhe milhões, com milhares de famílias que não conseguem sequer chegar a meio do mês?”, questionam.

Nos cartazes, o tom é bem menos meigo. “A ele os milhões, a nós pontapés nos c…”, pode ler-se nos muros.

Mas ainda o comunicado. Apontando o dedo à “diferença de tratamento”, os trabalhadores lembram que são eles que geram riqueza à Fiat pelo menos “há três gerações”. E que em troca não recebem mais do que “uma vida de miséria”.

“A empresa devia investir em modelos de carros que garantissem o futuro de milhares de pessoas, em vez de enriquecerem apenas uma. Esse devia ser o objetivo, uma empresa que põe os interesses dos trabalhadores primeiro. Se não é, é porque preferem o mundo do futebol, do entretenimento e tudo resto”, lê-se ainda na nota.

Tudo razões que justificam a greve que decorrerá entre domingo 15 e terça-feira 17.

Quanto aos cartazes, prometem continuar por lá, a lembrar que nem um CR7 consegue agradar a todos.