
Texto de Sara Dias Oliveira
Não entrou em Medicina por umas décimas, ainda repetiu os exames nacionais, acabou por tornar-se engenheiro do ambiente na Universidade de Aveiro. A paixão pelo curso revelou-se imediata. “Foi uma ótima decisão que tomei na altura, já que exerço uma profissão com paixão e prazer”, conta.
Há quatro anos, Ricardo Vieira de Sousa, de Pedroso, Vila Nova de Gaia, fez as malas e partiu para Abu Dhabi. “Sempre tive o desejo de ter uma experiência profissional fora de Portugal e vivenciar outras culturas e mentalidades.” Aconteceu. Conheceu o país antes de assinar o contrato. Gostou e ficou.
Começou como gestor do aterro sanitário e da estação de transferência de resíduos de Abu Dhabi, com 450 funcionários, e que recebia mais de 12 mil toneladas de resíduos por dia. “A melhor recordação foi, sem dúvida, a interação diária com inúmeras nacionalidades e entender os seus diferentes estilos de vida e mentalidades”, recorda o engenheiro de 39 anos.
Três anos e meio depois, um convite do Governo de Abu Dhabi. Hoje é responsável pela supervisão, gestão e monitorização das infraestruturas de deposição de resíduos dos Emirados Árabes Unidos, além de prestar apoio no desenvolvimento de soluções para a recuperação energética de materiais – óleos usados, pneus, resíduos elétricos e eletrónicos.
A redução das quantidades de lixos domésticos, comerciais e industriais e a procura de um eficiente sistema de recolha e tratamento ocupam-lhe os dias. “Aliado a tudo isso surge um desafio ainda maior que passa por encontrar a perfeita combinação entre recursos financeiros, investidores ou operadores capazes, adequada educação e formação ambiental dos produtores de resíduos e operadores, quadro legislativo e as tecnologias ideais ao nível de recolha e tratamento de resíduos”, adianta.
Em Portugal, depois da licenciatura, fez o mestrado na Universidade do Porto, onde iniciou a atividade profissional como bolseiro de investigação, integrando as equipas responsáveis pelo desenvolvimento dos inventários nacionais de resíduos e dos sistemas em alta e baixa de abastecimento e drenagem da zona norte do país. Seguiram-se dois estágios e um convite da Câmara de Felgueiras para diretor-geral de uma empresa que ia ser criada e gerir o aterro de resíduos industriais do município.
“Qualquer ‘lixo’ que não é devidamente recuperado, recolhido ou evitado será sempre muito.” E todos têm um papel nesta missão. “Mas ainda existe muito caminho a percorrer, nomeadamente a população entender que o lixo que gera diariamente em suas casas pode ser evitado e que, não o sendo, a opção deverá passar por materiais passíveis de reciclagem e ou valorização”, refere.
De momento, regressar não faz parte dos seus planos. “Depois de emigrar, as distâncias deixam de existir.”