Agricultura: os cinco trabalhos de João Rafael

 

Texto Cláudia Pinto | Fotografias Rodrigo Cabrita

É na Terra da Paz, em Evoramonte, no Alentejo, que João Rafael ganha a vida, e é lá que pretende viver até ao resto dos seus dias. Foi ali, a dezasseis quilómetros de Estremoz, que nasceu, se fez homem, casou e criou os dois filhos, Nádia, de 29 anos e João, de 21.

A vida dos seus pais e avós foi sempre esta, a de trabalhar com o que a terra tem para dar, e seguiu-lhes a tradição. Depois de ter trabalhado em algumas empresas, juntou-se com um grupo de amigos e passou a dividir o ano em cinco atividades que exerce por conta própria: dedica-se à apanha da azeitona de novembro a dezembro, altura em que começa o corte do sobro, que decorre até finais de março; em abril e maio, segue para a tosquia das ovelhas; no final de maio e até agosto, começa a trabalhar na cortiça, seguindo-se depois uma temporada nas vindimas, que decorre até novembro.

«Tem de se gostar muito disto», diz João Rafael, que apesar da alcunha de «fraquinho» – dada pelos colegas – não deixa que os 62 quilos o impeçam de correr os riscos próprios da profissão.

O ciclo recomeça depois, numa vida dura que resiste a condições meteorológicas adversas de todo o tipo. «Tem de se gostar muito disto», comenta João Rafael, que apesar da alcunha de «fraquinho» – atribuída pelos colegas – não deixa que os 62 quilos o impeçam de correr os riscos próprios da profissão.

Quem escolhe esta vida não pode ter medo, diz, e é por isso que tenta ter alguns cuidados que lhe permitam escalar árvores de motosserra na mão, e de encontrar o equilíbrio em ramos decadentes que se partem com facilidade e podem originar quedas. É preciso saber antecipar o risco, mas também ter força de braços na apanha da azeitona e na resistência na tosquia.

Apesar de não se sentir isolado por viver no interior, não esconde a mágoa de ver as suas gentes lembradas apenas quando há incêndios ou em períodos de seca extrema.

Garante que é feliz, mas preocupa-o a continuidade deste trabalho que não parece ter futuro. «Os mais novos não se interessam por isto.» Não perde tempo a queixar-se dos dias mais exigentes. «O corpo é que passa mal», diz. E assim vai continuando, até que a saúde permita.

Apesar de não se sentir isolado por viver no interior, não esconde a mágoa de ver as suas gentes lembradas apenas quando há incêndios ou em períodos de seca extrema. «Continuamos a existir e a fazer pela vida ao longo do ano. Não somos pessoas apenas quando há catástrofes.»