Restaurantes onde os animais também entram

Texto Rita Neves Costa

O Toco e a Princesa Leia são dois cães da raça yorkshire terrier: ele com 12 anos e ela com uns joviais 2 anos. No restaurante Bao’s ­– Taiwanese Burger, na Rua de Cedofeita no Porto, tornaram­‑se uma presença assídua, debaixo das mesas, mas sempre com a entrada interdita à cozinha.

Os grandes balcões e bancos do Bao’s tornam impossível que cheguem aos alimentos nas mesas de almoço e jantar. Para estes animais de pequeno porte, tudo é grande e inatingível. «Sempre tivemos animais de companhia no nosso estabelecimento. Não vêm com muita regularidade, mas temos alguns clientes que já vieram acompanhados», explica João Winck, responsável do espaço.

Permitir a entrada de animais no estabelecimento, ainda antes de o diploma ser aprovado na Assembleia da República e de entrar em vigor em maio, resultou de uma convicção de João Winck. «Eu tenho animais de estimação e julgo que se o animal for educado e calmo, não existe qualquer tipo de problema», diz.

O responsável do restaurante, que já viveu em Munique, na Alemanha, onde esta prática é comum, acredita que cabe ao dono do animal conhecer a personalidade do seu bicho, nomeadamente a reação a determinados ambientes.

Se no Bao’s não há más experiências com animais de estimação, nem mesmo latidos como som ambiente, o Soundwich no Parque da Cidade do Porto também não tem histórias menos felizes. Desde que abriu há seis anos que o restaurante se assumiu como dog­‑friendly (amigo dos cães) e o resultado tem sido positivo.

«Se há um cão, que pelas características ou raça possa ser mais imprevisível, advertimos o dono de que deverá ter cuidados suplementares.»

«Eu e a minha sócia sempre tivemos uma paixão por cães e da mesma forma que as pessoas podem ser educadas, cumpridoras e bem orientadas, também os animais podem ser», afirma António José Teixeira, um dos responsáveis pelo espaço. Neste momento, o Soundwich permite que os donos estejam acompanhados pelos cães na esplanada. E quando chove, os animais podem ficar numa varanda coberta.

O documento da Direção­‑Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), com o título de «À Mesa: 100 Mitos», publicado em junho de 2017, estabelecia «não existir qualquer impedimento para a presença de animais de companhia pertencentes aos consumidores no exterior do estabelecimento, como é o caso das esplanadas». No entanto, caso o proprietário do restaurante quisesse, podia impedir a sua entrada.

«Nunca nenhum cão fez uma necessidade na esplanada, mordeu alguém ou foi agressivo ao ponto de deixar as pessoas apreensivas», explica António José Teixeira, que admite no futuro abrir as pequenas salas interiores do Soundwich aos animais de companhia.

O sócio­‑gerente adianta que os donos de cães e clientes do espaço têm sido cuidadosos e responsáveis: trazem açaime ou trela curta. «Se há um cão, que pelas características ou raça possa ser mais imprevisível, advertimos o dono de que deverá ter cuidados suplementares.»

A convivência entre donos e cães vai ainda mais longe. O Soundwich criou o «menu cão» (4,50 euros), servido numa caixa metálica, com água mineral, comida húmida e ainda uma bolacha de canela e maçã para sobremesa. «Enquanto o dono está a comer a sua sandes, o cão está a comer a sua refeição também. É um ritual que permite a aproximação entre dono e cão e até de quem observa», conclui António José Teixeira.

Após publicação em Diário da República, os donos de restaurantes terão de decidir dentro de 90 dias, se aceitam ou não a entrada de animais de companhia nos negócios.

Até à aprovação do diploma com os projetos­ de lei do Partido Animais e Natureza, Os Verdes e Bloco de Esquerda, a 9 de fevereiro, pela Assembleia da República, a entrada de animais de estimação no interior dos estabelecimentos de restauração estava interdita. Com a exceção dos cães de assistência.

No entanto, a proibição tornava­‑se turva em casos excecionais: «Os animais que pertencem aos consumidores só são permitidos no restaurante em casos excecionais, como é o caso de pessoas invisuais, ou nas situações em que o gestor do estabelecimento o autorize».

O documento aprovado no Parlamento e que vai baixar à discussão na especialidade resultou das ideias dos três partidos: o PAN sugeriu que a entrada de animais dependesse da autorização do dono do estabelecimento, o PEV apontou o comportamento e o porte dos animais como fator decisivo e na salvaguarda de não transtornar os clientes e o BE defendeu a criação de uma zona delimitada para os animais.

No entanto, a aprovação política não teve o mesmo consenso no setor da restauração. «Não fomos ouvidos no processo e a nova legislação não define que tipo de animais de companhia são: cães, gatos, hamsters?», questiona José Manuel Esteves, diretor­‑geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).

O responsável refere ainda que os estabelecimentos não estão preparados para a responsabilidade ou os custos de aceitar animais de estimação. «Terão de ser os proprietários a verificar as condições de saúde pública e higiene, quando não têm sequer formação veterinária».

Após publicação em Diário da República, os donos de restaurantes terão de decidir dentro de 90 dias, se aceitam ou não a entrada de animais de companhia nos negócios. Além de um dístico à porta do espaço, o proprietário terá de ter outros cuidados: como o número limite de animais no seu interior ou impedir que circulem livremente.

Há espaços amigos dos animais um pouco por todo o país

Existem já alguns estabelecimentos de restauração (e não só) a aceitar animais de estimação – a maioria, para já, nas esplanadas. As aplicações bizidog e Pets Welcome, da marca Purina, fazem a triagem de todos os locais onde é possível levar o cão e o gato, de norte a sul do país.

  • Braga Café A Brasileira
  • Amarante Café Bar ­– Restaurante S. Gonçalo
  • Vila do Conde Restaurante Senhora da Guia
  • Porto Mercearia do Miguel
  • Sintra Café da Natália
  • Lisboa Noobai
  • Sagres Restaurante Warung