
O meu entrevistado de hoje é uma pessoa que tem tanta dificuldade em controlar a língua como o cabelo. Comigo tenho – não tenho, mas gostaria de ter – Boris Johnson, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros britânico. Queria começar por lhe fazer uma pergunta…
Não prefere um chá?
Ui, lá vem você com isso do chá. Já da última vez quando os jornalistas estavam à sua espera, à porta de casa, para o questionar sobre ter comparado as mulheres que usam o véu islâmico com assaltantes de bancos usou essa tática de não responder e oferecer chá.
Pelo menos não me podem acusar de ter falta de chá. Eh, eh, eh…

Valha-me Deus, um trocadilho, logo o senhor que é tão adepto dos costumes ingleses vem dar cabo do humor inglês. É por isso eu odeio o Brexit. Quando o Reino Unido sair da UE, o humor da União Europeia passa a ser dominado pelos alemães. Mil vezes o domínio económico!
Eu estou farto da União Europeia! Nunca mais chega o 29 de março para, finalmente, termos o divórcio. Infelizmente, receio que saia mais caro do que o meu.
É exatamente por isso que, hoje, o estou a entrevistar. Num artigo de opinião, no “Mail on Sunday” , o senhor comparou o plano da primeira-ministra britânica para o Brexit a um colete suicida cujo detonador está entregue ao chefe dos negociadores da União Europeia. Não acha um bocado infeliz comparar um atentado suicida com a posição da Theresa May?
Eu até acho que fui bastante soft. Se fosse um atentado terrorista, ao menos sempre tínhamos direito a 72 virgens e a muita rebaldaria. Assim, ficamos só a chuchar no dedo. Estamos a ser humilhados pela União Europeia!
Que exagero. Eu sou português, se há alguém que saiba o que é ser humilhado pela União Europeia, somos nós e os restantes países do Sul. Até já disseram que gastamos tudo em copos e mulheres.
Isso não é uma humilhação, isso é o meu dia-a-dia.
Aí dou-lhe razão. É por isso que não imagino uma União Europeia sem britânicos. Uma UE sem o Reino Unido é o mesmo que uma viagem de finalistas sem bêbedos, ou um casamento sem ninguém alcoolizado, a fazer um discurso chato, ou um bar de karaoke só com gente sóbria. Para mim, os ingleses são isso, essa noção que há coisas que nunca mudam, e muitas delas metem álcool.
É inadmissível! A UE impõe o que quer. O Reino Unido não é a Grécia!
Lamento. Vocês é que se meteram nessa confusão. Na minha modesta opinião, acho que o Reino Unido preparou a saída da UE como o meu pai preparava as idas à pesca: “Mas , afinal, quem é que ficou de trazer o isco?” – isto já em mar alto.