Probióticos, as bactérias do bem?

Texto de Sofia Teixeira | Fotografia Shutterstock

A maior parte das células presentes no nosso organismo não é humana. Somos hospedeiros de triliões de micro‑organismos – estima‑se que representem cerca de um quilo do nosso peso – que se encontram sobretudo nos intestinos, na pele, aparelho respiratório e uro‑ginecologico. Esta comunidade amigável dá pelo nome de microbiota e já se percebeu que tem um papel muito importante na saúde e na doença.

A mais falada tem sido a dos intestinos. O Intestino, o Nosso Segundo Cérebro; O Intestino Também Sente; O Intestino Feliz; Tudo de Bom para o Meu Intestino; A Vida Secreta dos Intestinos, são apenas alguns dos títulos de livros publicados em português nos últimos anos a falar sobre a importância dos intestinos e da microbiota intestinal.

Dos vários fatores que contribuem para o estabelecimento de uma microbiota saudável no intestino humano durante a infância, a dieta é um dos mais relevantes.

E uma pesquisa no Pubmed – uma base de dados online de literatura médica – por «gutmicrobiota» (microbiota intestinal), só nos últimos cinco anos, devolve mais de 7500 resultados.

Ainda há muitas dúvidas sobre o tema, nomeadamente sobre o exato mecanismo de ação da microbiota sobre a saúde e a doença mas, com tanta investigação científica, também já há algumas certezas. A primeira é que, dos vários fatores que contribuem para o estabelecimento de uma microbiota saudável no intestino humano durante a infância, a dieta é um dos mais relevantes.

Os probióticos – dos quais tanto se tem falado – e que mais não são do que micro-organismos vivos, que se encontram, entre outros, no iogurte.

A segunda é que as bactérias intestinais desempenham um papel crucial na manutenção do equilíbrio imunológico e metabólico, bem como na proteção contra agentes patogénicos, como bactérias e vírus prejudiciais. A terceira – que decorre da anterior – é que os desequilíbrios no ecossistema da microbiota intestinal têm sido associados a doenças e a processos inflamatórios.

É aqui que entram os probióticos – dos quais tanto se tem falado – e que mais não são do que micro-organismos vivos, que se encontram, entre outros, no iogurte. Mantém-se vivos durante todo o processo de digestão e, com isso, ajudam a recompor a nossa microbiota. Por outro lado, há os prebióticos, que alimentam todas estas bactérias.

Ou seja, assim como os antibióticos matam as bactérias más, os probióticos ajudam a renovar as bactérias saudáveis que foram destruídas e os prebióticos nutrem as bactérias saudáveis que permaneceram.

«Ajudam a renovar as bactérias saudáveis que foram destruídas» é uma frase-chave para não se incorrer numa corrida insensata aos probióticos. Estes micro-organismos existem dentro do nosso corpo e uma dieta saudável e equilibrada é mais do que suficiente para os renovar e alimentar: uma pessoa saudável não precisa de fazer reforço de alimentos com probióticos nem de tomar suplementos.

Assim como não faz sentido tomar antibióticos para tratar uma infeção que não existe, não faz sentido fazer suplementos de probióticos para equilibrar um ecossistema que está saudável. O caso pode mudar de figura se existir um desequilíbrio: para quem está a tomar antibióticos de forma prolongada, sofre de obstipação, diarreia, mal‑estar abdominal ou doenças como o cólon irritável, os probióticos podem ter um papel importante no equilíbrio da microbiota intestinal e no alívio dos sintomas.

Sabe‑se há muito, por exemplo, que a toma de antibióticos de largo espetro pode causar um desequilíbrio nestes ecossistemas e que este pode causar problemas secundários: ao tomar antibióticos para matar bactérias que estão a provocar uma infeção urinária, por exemplo, pode ficar‑se com diarreia.

Nesses casos pode fazer sentido um reforço da toma de próbioticos e prebióticos naturais (presentes nos alimentos) ou mesmo a toma de suplementos nutracêuticos – que deve ser discutida com o médico assistente.

Apesar de haver alguma evidência científica acerca do papel dos probióticos, a comunidade científica é relativamente unânime em afirmar que faltam estudos que ajudem a esclarecer melhor os seus mecanismos de ação e para perceber que tipo de probióticos são úteis em determinadas situações.

Por essa razão, a Food and Drug Administration (FDA) – a instituição norte‑americana que regula, entre outros, o mercado de medicamentos e suplementos – ainda não aprovou probióticos para prevenir ou tratar qualquer problema de saúde. Muitos especialistas alertam ainda para o facto de o marketing em torno dos probióticos poder estar a fazer passar uma ideia de eficácia e múltiplos benefícios que, não sendo totalmente claros, pode não ser real.

EM QUE CASOS ALGUNS PROBIÓTICOS PARECEM AJUDAR?

  • Distúrbios digestivos, como diarreia (associada a infeções ou toma de antibióticos), síndrome do intestino irritável e doença inflamatória intestinal.
  • Problemas alérgicos como dermatite atópica (eczema) e rinite alérgica.
  • Cáries dentárias e doença periodontal.
  • Cólicas do lactente.
  • Doença hepática.
  • Constipações.

PREBIÓTICOS NATURAIS
Em termos simplistas, podem ser definidos como o alimento para as bactérias da microbiota. Os micróbios devoram esses compostos e, a partir deles, produzem substâncias benéficas. Onde encontrar? Espargos, cenoura, alho, rabanetes, cebolas, alho‑frances, jicama e aveia.

PROBIÓTICOS NATURAIS
São produtos cheios de bactérias saudáveis, como os lactobacilos e bifidobactérias, que parecem favorecer o trânsito intestinal e a absorção das vitaminas. Onde encontrar? Vegetais fermentados (como chucrute e kimchi) e produtos lácteos fermentados (kefir, iogurte).