Texto de Ricardo J. Rodrigues | Fotografias de Arquivo DN
Dois anos antes tinha sido instaurada a Ditadura Militar e, na primeira página do Diário de Notícias de 3 de Março de 1928, as referências dissipam quaisquer dúvidas: «Este número foi visado pela comissão de censura.»
No fundo da página esta fotografia e o título «Festa da Violeta. Até agora estão apurados 42 contos de reis.» O regime mostrava-se.
A iniciativa tinha partido de Maria do Carmo Carmona na semana anterior. Trocar flores por donativos dos maiores industriais do país e assim recolher fundos para patrocinar a rede de orfanatos, que desde o final da I Guerra Mundial recebiam cada vez mais crianças.
A mulher do presidente da república, Óscar Carmona, dava com isso início a uma série de projetos que haveriam, pela primeira vez, de tornar visível a figura da primeira dama portuguesa.
Maria do Carmo era o rosto da caridade e da humanidade de um governo repressivo. Um modelo da condição feminina – a mulher generosa, composta, recatada.
Maria do Carmo Carmona foi primeira-dama de Portugal de 1926 a 1951. Nascida em Chaves em 1879, casou com Óscar Carmona em 1914, tendo antes dado à luz os três filhos do casal: Cesaltina, António Adérito e Maria Inês.
Profundamente religiosa, disse uma vez numa entrevista à revista Modas e Bordados «não encontrar maior prazer na vida do que na prática da caridade.» E, de facto, foi pelos seus esforços na proteção das crianças que o país a conheceu. Apadrinhando orfanatos, fundando casas de acolhimento, apoiando colónias de férias. Morreria em 1956, em Lisboa.
O Marido
Óscar Carmona conheceu Maria do Carmo quando estava destacado no regimento de Infantaria de Chaves. Militar de carreira, foi um dos líderes do golpe que impôs a ditadura em 1926 e presidente da república desde aí até 1951.