Pré-diabetes: quando o açúcar no sangue começa a portar-se mal

Texto Sara Dias Oliveira

A pré-diabetes é como um alerta para o risco de desenvolver diabetes. As campainhas da boa saúde e do estilo de vida saudável devem soar bem alto. Até porque os números não são animadores. No nosso país, quase um quinto dos portugueses, entre os 25 e os 74 anos, apresenta níveis de glicose no sangue que evidenciam pré-diabetes. Cerca de 70% dos indivíduos vão eventualmente desenvolver diabetes. Entre 15 a 30%, desses 70%, apresentam uma forte probabilidade de ter diabetes num prazo de cinco anos.

É uma condição, de certa maneira, silenciosa. Geralmente, não há sinais ou sintomas visíveis associados à pré-diabetes, o que leva a que nove em 10 pessoas com pré-diabetes desconheçam esta condição. Há, no entanto, alguns sinais que ajudam a reconhecer a sua presença. Sede constante, fome permanente apesar de não saltar refeições, cansaço extremo, problemas de visão, feridas que demoram mais tempo a sarar.

Dormência, formigueiro e dores nas mãos ou nos pés são sinais que podem ajudar a detetar a pré-diabetes.

“Em princípio, cada indivíduo com pré-diabetes estará assintomático, o que faz com que grande parte da população afetada desconheça que apresenta esta condição. Contudo, a pré-diabetes, além de constituir um importante fator de risco de evolução para diabetes, está associada a um aumento de risco para doença coronária e cerebrovascular”, adianta à NM José Silva Nunes, médico do serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. “Adicionalmente, as pessoas com pré-diabetes já têm um risco acrescido de desenvolver algumas das complicações tardias da diabetes que resultam da afetação dos pequenos vasos da retina, do rim e dos nervos”, acrescenta.

Na Europa, até 2040, mais de 36,6 milhões de pessoas estarão na fase pré-diabetes. O que não significa que obrigatoriamente passarão à fase seguinte, ou seja, a uma diabetes. “Não é inevitável que cada indivíduo diagnosticado com pré-diabetes evolua para diabetes, se bem que essa será a história natural de grande percentagem de indivíduos”, refere o especialista que também integra a Unidade de Tratamento Cirúrgico de Obesidade e Doenças Metabólicas do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central.

A Organização Mundial da Saúde reconhece que a anomalia da glicemia de jejum, a tolerância diminuída à glicose e a diabetes “mellitus” são estádios diferentes de um mesmo processo patológico. E admite também “que se se intervir nas fases mais precoces daquele processo patológico, é possível prevenir a progressão para os estádios mais avançados.” “Existe evidência robusta, com grandes estudos populacionais, do efeito de intervenções no estilo de vida e do efeito de alguns fármacos, sobre a diminuição do número de indivíduos que progridem de pré-diabetes para diabetes”, sublinha José Silva Nunes.

As mulheres que têm diabetes durante a gravidez sofrem o risco, entre 20% a 60%, de num prazo de cinco a dez anos, desenvolverem diabetes.

Neste caso, são necessárias medidas sobretudo de alterações no estilo de vida, na prática desportiva, na alimentação, bem como nos tratamentos médicos para controlar os níveis de glicose no sangue. Os estilos de vida são a chave para prevenir a progressão da situação em que o metabolismo dos açúcares é normal para a pré-diabetes e da pré-diabetes para a diabetes.

“Para controlar a expressão desta disfunção (expressa como pré-diabetes e diabetes), primeiro há que identificar os indivíduos que apresentam aquela disfunção e, depois, atuar de forma intensiva por forma a atrasar a sua história natural”, refere o médico que lembra que a Associação Americana de Diabetes recomenda que o despiste na disfunção do metabolismo dos açúcares deva ser realizado, regularmente, a todas as mulheres que tiveram diabetes gestacional e às pessoas que apresentam excesso ponderal associado a outro fator de risco, como hipertensão arterial, alteração nos níveis de gordura no sangue, doença coronária ou ter familiar de primeiro grau com diabetes, entre outros.

Na pré-diabetes, 10,4% dos adultos apresentam anomalia da glicemia de jejum, 14,3% apresentam tolerância diminuída à glicose e 2,7% da população adulta apresenta ambas as condições.

A idade é um fator de risco para quem tenha alterações no metabolismo dos açúcares. A prevalência de pré-diabetes atinge maior expressão na população idosa. “A pré-diabetes é altamente prevalente a nível mundial. A Federação Internacional de Diabetes estima que 7,3% da população adulta mundial (mais de 352 milhões de pessoas) apresente tolerância diminuída à glicose mas não avança com estimativas quanto à expressão mundial da anomalia da glicemia de jejum.”

No próximo dia 13, no âmbito do Dia Mundial da Diabetes, que se assinala a 14 de novembro, a Federação Portuguesa de Associações de Pessoas com Diabetes promove uma ação de sensibilização na Praça de Navegantes do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, com apoio da farmacêutica Merck. Há uma estrada para percorrer com várias peças e blocos que vão colocando desafios. No final do percurso, os participantes recebem informação sobre se estão ou não em risco de desenvolver diabetes, ou seja, na fase da pré-diabetes. Antes disso, é registado o peso e a altura, calculado o índice de massa corporal, medido o perímetro abdominal, e oferecido um plano alimentar semanal saudável.