Confesse: ver um post cheio de “likes” dá-lhe uma grande sensação de prazer. É normal que isso aconteça. Explicação técnica? É que, quando alguém gosta das nossas publicações, dá-se no cérebro uma descarga de dopamina que nos faz ter a mesma sensação de quando comemos chocolate, fazemos sexo ou ganhamos dinheiro. Ou seja, o Facebook e o Instagram dão-nos prazer e é por isso que estamos a ficar viciados. Principalmente os mais novos. O que faz com que os “gostos” sejam a mais recente medida de popularidade do século.
Pode até ser que estejamos a modificar os nossos hábitos, comportamentos e publicações para termos a aprovação dos outros. William Keith Campbell, professor de Psicologia na Universidade da Geórgia, nos EUA, e autor de três livros sobre o aumento do narcisismo nas novas gerações, diz acreditar que “estamos viciados em ‘likes’ e feedbacks virtuais porque ansiamos por eles”.
Tudo começa com uma publicação que tem alguns “gostos” e que até nos satisfaz. Mas pouco depois, se não vemos esse número a aumentar, ficamos irritados. Paralelamente, ao tentarmos ser mais populares, podemos começar a refugiar-nos cada vez mais nas redes, perdendo a habilidade com os relacionamentos reais.
E estamos no verão, a época em que por excelência mais publicamos nas redes. Porque verão não é verão se não partilharmos as nossas fotos com os outros. Sejam as pernas, seja o pôr-do-sol. Pelo menos é o que a maioria da população parece pensar. De acordo com um relatório da Adglow, empresa de publicidade digital e serviços de software, 72% dos usuários enviam fotos para as redes sociais durante as férias. O mesmo documento estima que só este verão o uso das redes aumente 25%, contabilizando mais de 372 mil milhões de “gostos”.
O risco é que essa aprovação seja sobrevalorizada. É que, às vezes, a foto que publicamos no Instagram é boa mesmo que não tenha muitos “likes”. Noutras ocasiões, a reflexão que fazemos no Facebook faz sentido mesmo que não recolha muitos likes. A quantidade de gostos não nos deve definir, nem se pode cair na tentação de mudar quem somos só para ter uma falsa sensação de ser amado ou aprovado pela sociedade.
Eis os mitos dos “gostos” na rede:
- Muitas pessoas pensam que quando alguém gosta repetidamente das suas fotos no Instagram é porque está interessado nela, o que pode levar a mal-entendidos.
- Muitos “likes” e fotos felizes significam felicidade, mas uma foto na rede pode esconder mais do que parece. As poses calculadas ao milímetro e em atitudes aparentemente positivas podem mascarar situações de insegurança e de tristeza.
- Obviamente, não é necessário ter redes sociais ou, no caso de tê-las, colher uma grande quantidade de “gostos” para ter amigos. A amizade é trabalhada todos os dias num relacionamento. E não numa virtual troca de “gostos” nas redes.
- Um dos grandes riscos que os adolescentes e jovens correm está escondido atrás do conteúdo que partilham. Muitos optam por enviar fotos ousadas para obter aprovação dos seus seguidores. No entanto, eles esquecem-se que esses conteúdos podem ser aproveitados contra eles por outros usuários.