PIDE nunca mais

Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia de Arquivo DN

Três dias após a madrugada que tirou o país da ditadura, vivia‑se um clima de tremenda emoção e expetativa. A liberdade era palpável. Todos os jornais tentavam acompanhar os momentos determinantes e captavam as imagens que fariam história.

A 28 de abril, o Diário de Notícias era inteiramente dedicado à revolução. Se o general Spínola fazia manchete com a frase «É importante consciencializar o país para que escolha o regime em que quer viver», outro acontecimento chegava à primeira página.

A PIDE funcionava desde 1945 como um organismo autónomo da Polícia Judiciária e foi, durante décadas, símbolo de perseguição, prisão e tortura a quem se opusesse ao Estado Novo.

A Escola Técnica de Formação de Agentes da PIDE/DGS (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), em Sete Rios, tinha sido tomada no dia anterior (27) por fuzileiros especiais. A ação dos militares não passou despercebida à população que foi chegando ao local para acompanhar a ocupação. Chegaram mesmo a exaltar‑se e tiveram de ser contidos pelas forças de segurança que pediam «calma e contenção».

Não faltavam motivos para a exaltação do povo. A PIDE funcionava desde 1945 como um organismo autónomo da Polícia Judiciária e foi, durante décadas, símbolo de perseguição, prisão e tortura a quem se opusesse ao Estado Novo.

O DN entrou no edifício e fez uma descrição perturbadora do que encontrou. «Muito material armazenado, salas com arquivos e ficheiros, caixas de cartão, exposição de notas bancárias falsas, impressões digitais muito ampliadas, quadros com fotografias de presos políticos em várias poses e de pessoas diversas.»

No outro lado do edifício, encontrava‑se uma sala que mais parecia um museu. «Colados na parede, cartazes subversivos, que haviam sido retirados das universidades, e uma biblioteca com mais de mil livros apreendidos, a maior parte ligados a temas sociais (obras de Lenine e Estaline, por exemplo)», podia ler‑se.

No entanto, o pior estaria reservado para o fim. «Ao fundo do corredor, a maior surpresa – largas doses de fotografias de réus, em ponto grande, exemplificando técnicas de tortura.»

TORTURA
A privação do sono foi uma das práticas de eleição da PIDE. Os presos eram proibidos de dormir durante vários dias. Os agentes esperavam assim que o esgotamento físico e mental os fizesse falar. Há relatos de quem tivesse aguentado onze noites sem dormir.