Uma pausa antes da ditadura

Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia de Arquivo DN

O governo liderado por António Maria da Silva tinha apenas dezassete dias e não duraria mais do que um mês (começou a 1 de julho e foi exonerado a 1 de agosto). O clima que se vivia na Câmara dos Deputados era de tensão há já vários dias, com deputados da esquerda e da direita a debater-se em discursos intermináveis.

De 16 para 17, o deputado João Camoesas fez um discurso que durou nove horas (da meia-noite às nove da manhã). O seu objetivo era manter nas bancadas os deputados pró-governamentais.

Ainda assim, foi aprovada uma moção de desconfiança por nove votos de maioria. Um facto curioso é que vários deputados democráticos esquerdistas do Partido Republicano Português votaram contra o governo do respetivo partido. Mais tarde, estes deputados seriam erradicados.

O chefe do governo vai a Belém pedir a dissolução parlamentar ao Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes.

O Diário de Notícias acompanhava todas as movimentações políticas que aconteciam a uma velocidade vertiginosa e captava o cansaço sentido pelos seus intervenientes. «A crise política continua insolucionável, embaraçando a vida nacional e impedindo que os poderes legalmente constituídos dediquem toda a sua atenção ao futuro do país», pode ler-se. A história viria a provar que este esforço não seria suficiente.

António Maria, numa tentativa de manter uma falsa unidade do seu governo, promove uma moção de confiança no Senado que é aprovada por 28-10. Com este resultado em mãos, o chefe do governo vai a Belém pedir a dissolução parlamentar ao Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes.

É neste clima de vaivém que, no dia seguinte, a 19 de julho, é decretado o Estado de sítio, após a tentativa de golpe militar travada por forças fiéis ao governo. Estava dado o pontapé de saída para o golpe militar de 28 de maio de 1926.

REPÚBLICA INSTÁVEL
A Primeira República (1910 a 1926) foi pródiga em mudanças. Ao todo, foram sete Parlamentos e mais de quarenta chefes de governo.