Os grandes inimigos dos pulmões: tabaco, asma e poluição

Texto Sara Dias Oliveira

É uma das doenças respiratórias mais comuns. É crónica e debilitante, condiciona a qualidade de vida e as mais recentes estimativas falam em três milhões de óbitos em 2020, em todo o mundo. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) começa por ser suportável, mas à medida que evolui impede e trava as habituais atividades do dia-a-dia. No final, torna-se absolutamente incapacitante. Esta quarta-feira assinala-se o Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. Um pretexto para relembrar que o órgão que trata o oxigénio deve ser bem tratado.

Os pulmões ficam doentes por duas razões. “Primeiro os brônquios, tubos que conduzem o ar, ficam mais estreitos, dificultando a expiração no início e a expiração e inspiração no fim. Paralelamente, ocorre a rotura das paredes alveolares diminuindo a eficácia das trocas gasosas e aumentando a sensação de falta de ar”, explica à NM José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão.

Pulmões doentes e todo o organismo sente na pele que algo não vai bem. A DPOC significa uma deficiente oxigenação do sangue. Ou seja, a oxigenação adequada dos órgãos como o cérebro, o coração, o fígado e os rins, não fica assegurada com todas as consequências inerentes a essa situação.

Os sintomas da doença só surgem quando mais de 80% da função pulmonar já foi perdida.

Cigarro e pulmões nunca combinaram e a principal causa da DPOC é o hábito de fumar. O tabaco tem 90% de responsabilidades nesta doença. Mas há mais culpados. Asma grave, poluição com fumo de lareiras e fogões de lenha e poluição atmosférica são outras causas da doença. “A principal manifestação é a falta de ar. Primeiro, ligeira; depois, progressivamente incapacitante e fatal”, avisa José Alves.

Os pulmões dão de si quando não estão bem. Tosse, expetoração, dispneia ou falta de ar, cansaço que aumenta com a atividade física, pieira ou chiadeira no peito são os sintomas relacionados com a DPOC. São sintomas crónicos e progressivos e que normalmente surgem acompanhados de ansiedade e depressão. E há mais homens do que mulheres com DPOC porque eles fumam mais e há mais tempo.

Noventa por cento dos fumadores têm probabilidade de desenvolver DPOC.

A DPOC costuma aparecer depois dos 50 anos ou então 20 a 25 anos depois do início de hábitos tabágicos. Deixar de fumar e um diagnóstico precoce são passos decisivos para impedir a progressão desta doença que não tem cura e que pode levar à morte. “Segue-se o tratamento médico, com broncodilatadores inalados, medicamentos que alargam os brônquios. Em qualquer momento, e o mais cedo possível, é recomendada a reabilitação respiratória. Finalmente, nas situações mais graves é necessária a ventilação não invasiva e a suplementação de oxigénio”, explica o presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão.

A espirometria, que deteta alterações na função respiratória e pulmonar que indicam se a pessoa virá a desenvolver DPOC, é um exame importante. “A DPOC caracteriza-se por perda irreversível de função respiratória. Quanto mais cedo se fizer o diagnóstico, menor é a perda. Esperar pelos 40 anos para fazer a espirometria que dará eventualmente o diagnóstico é o que tem sido usual, mas fazê-la mais cedo permite menor morbilidade (redução do número de pessoas com esta doença), menos queixas, e maior esperança de vida”, refere José Alves.

Todos os fumadores devem, portanto, fazer uma espirometria o mais cedo possível. “As pessoas são doentes ainda antes de terem sintomas. Por isso, quanto mais cedo se diagnosticarem alterações pulmonares, maior é a possibilidade que temos de informar as pessoas, levá-las a deixar de fumar e a tratar da saúde”, acrescenta o responsável.