Nuno Agonia: «Já me recusei a dizer certas coisas porque não eram verdade»

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Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia de Sara Matos/Global Imagens

No final da conferência Retratos de Família, da Notícias Magazine, Nuno Agonia não está sozinho. Rodeiam-no alguns dos seus seguidores, a maioria adolescentes. Pedem autógrafos, fotografias, querem conversar.

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O youtuber responde com simpatia, já está habituado. Afinal, tem um dos canais portugueses de tecnologia de maior sucesso, com quase um milhão de subscritores e duzentos milhões de visualizações. Apesar de o seu público ser maioritariamente da faixa etária entre os 28 e os 34 anos, trinta por cento são adolescentes. E os que estão na plateia estão atentos ao que tem para dizer.

«Tu és o segredo. Seja um carro Tesla ou uma sanita, as pessoas vão ver por causa do teu carisma.»

Se lhe dissessem há uns anos que esta seria a sua profissão, provavelmente Nuno não iria acreditar. Gestor de redes na indústria hospitalar, o gosto pela tecnologia estava já na sua rotina há algum tempo. Quando uma tuberculose glanglionar o obrigou a ficar em casa mais de ano e meio, começou a fazer vídeos explicativos de alguns produtos, e não demorou muito até ser abordado pelas primeiras marcas. Estava lançado.

«Foi tudo muito rápido. Quando tratei a minha doença tive de decidir se queria voltar ao antigo trabalho ou dedicar-me a sério ao canal.» Quatro anos depois, não tem parado de crescer. «Num mês mau tenho cinco milhões de visualizações, num mês bom chego aos de 13 milhões», diz. Qual a receita para o sucesso? «Tu és o segredo. Seja um carro Tesla ou uma sanita, as pessoas vão ver por causa do teu carisma.»

Quando entramos no canal de Nuno, podemos ver desde a apresentação de uma máquina de pipocas até ao vídeo de um carro topo de gama. «O meu canal tornou-se muito eclético, as marcas começaram a vir ter comigo porque perceberam que eu conseguia colocar cinquenta mil pessoas na página de um produto no dia em que lanço um vídeo.»

Ainda assim, como youtuber tem vindo a selecionar os produtos e, sobretudo, a forma como os aborda. «Já houve vídeos em que me recusei a dizer certas coisas que me pediram porque não eram verdade. Se o fazes, perdes a credibilidade.»

Nuno participou no painel de debate moderado por Catarina Pires, editora da Notícias Magazine, que também contou com a presença de Carlos Coelho, eurodeputado da comissão da Proteção dos Consumidores e Liberdades Cívicas, do Parlamento Europeu, e Tiago Lapa, sociólogo do ISCTE.

«As crianças não têm culpa, a tecnologia pode ser uma coisa muito boa e somos nós que a compramos. Os pais deixam os miúdos consumir qualquer coisa.»

Ao ser questionado sobre a responsabilidade moral de fazer vídeos em que explica como arrombar uma porta ou abrir cadeados, o youtuber referiu que apenas explica como se faz, não incentiva as pessoas a fazer nada ou a comprar. Com a parentalidade na era da tecnologia em discussão, Nuno admitiu que está muito mais atento ao tipo de conteúdos que divulga desde que foi pai de um menino há 13 meses.

«Há produtos que não faço. Brinquedos em forma de armas, por exemplo. E há canais de amigos meus que não vou deixar o meu filho ver.» Em relação ao controlo parental muito focado pelo eurodeputado Carlos Coelho, Nuno reforça que «a culpa é nossa. As crianças não têm culpa, a tecnologia pode ser uma coisa muito boa e somos nós que a compramos. Os pais deixam os miúdos consumir qualquer coisa. O problema está aí.»