Näz: Bom gosto sustentável

Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia DR

Näz significa «ter orgulho e saber que somos amados, independentemente do que fazemos» na língua urdu. O nome assenta que nem uma luva (reciclada) no projeto de Cristiana Costa, 23 anos.

Quando entrou no curso de Design de Moda na Universidade da Beira Interior, a jovem empreendedora estava longe de imaginar que terminaria o curso universitário com uma marca própria. E que esta ganharia uma menção honrosa (três mil euros) na iniciativa Terre de Femmes, da Fundação Yves Rocher, que apoia mulheres com projetos a favor do ambiente.

«Foi uma grande surpresa ganhar este prémio. Não contava mesmo porque a Näz é uma empresa com fins lucrativos e normalmente os prémios vão para empresas sem fins lucrativos. Mas acho que ganhei exatamente por isso. Porque provamos que é possível ser uma empresa lucrativa, em expansão, mantendo a consciência social», afirma.

Na faculdade surgiu a consciência ambiental e a preocupação com a sustentabilidade – sobretudo nos anos de mestrado –, quando teve a oportunidade de estar mais em contacto com os fabricantes locais e «perceber a paixão pelo que fazem. É incrível e inspirou‑me a meter mãos à obra».

O desafio estava traçado e nem as ofertas de trabalho demoveram a jovem que tinha 21 anos, na altura. «Sabia o que queria. Achei que era o momento certo e não valia a pena adiar.»

A indústria da moda apresenta números alarmantes e Cristiana quis contrariá‑los. «Ganhamos a perceção do desperdício desta área, que não é pouco.» É a quinta indústria mais poluente do mundo e o uso excessivo de recursos amontoam‑se em aterros. «O projeto surgiu sobretudo porque não conseguia encontrar roupa com que me identificasse, tanto a nível estético como ético», explica.

O desafio estava traçado e nem as ofertas de trabalho demoveram a jovem que tinha 21 anos, na altura. «Sabia o que queria. Achei que era o momento certo e não valia a pena adiar.» A ausência de marcas de roupa portuguesas sustentáveis foi também um incentivo. «Como a nossa marca realmente ainda não há. Já existem excelentes marcas de vestuário sustentável mas, na sua maioria, ou se limitam a peças básicas ou têm valores extremamente altos.»

A Näz nasceu em 2016, mas levaria um ano (até agosto de 2017) para começar a produzir e a vender para as lojas.

O primeiro passo? «Ligar à minha mãe e dizer‑lhe que não iria ter um emprego com um ordenado no final do mês», lembra, com a jovialidade própria da idade. Apesar de ser lisboeta, Cristiana encontrou na Covilhã o lugar ideal para viver e começar o projeto de raiz. «A qualidade de vida que aqui tenho não a consigo em Lisboa. E já conheço as pessoas, as fábricas, vou a pé para o trabalho, quero ajudar a indústria local. Às vezes, ainda parece que estamos um pouco isolados aqui em cima.»

A Näz nasceu em 2016, mas levaria um ano (até agosto de 2017) para começar a produzir e a vender para as lojas. Esse tempo foi dedicado a desenvolver as peças da coleção, torná‑las únicas e escolher os materiais sustentáveis mais adequados.

«Assegurámos parceiros da indústria têxtil que tivessem excedentes de produção que pudéssemos utilizar na nossa própria produção, conseguindo assim tecidos de excelente qualidade, todos produzidos em Portugal, que na sua maioria iriam acabar em aterros e causar um grande impacto económico negativo nessas empresas.

Deste modo, diminuímos a nossa pegada ambiental, uma vez que não produzimos tecidos e aumentamos o tempo de vida dos mesmos, e reduzimos entre vinte e trinta por cento o impacto ambiental de uma peça de roupa se esta for utilizada mais nove meses», pode ler ‑se na explicação do projeto.

Entre os excedentes usados estão as fibras, o liocel e o cupro, fibras naturais, linho, lã e algodão. Nos tecidos reciclados, a Näz trabalha com poliéster e lã. Foi tudo pensado ao pormenor, incluindo os acessórios como os botões que são feitos de papel, azulejo ou borras de café, e até as fivelas das calças são impressas em 3D utilizando um plástico que vem do milho e é biodegradável. A totalidade do prémio Yves Rocher foi aplicada no desenvolvimento destes tecidos reciclados.

Com a loja online a funcionar há pouco tempo, a exportação para lojas, não só nas principais cidades portuguesas como Lisboa, Porto ou Aveiro, mas também para países como Reino Unido, Alemanha, Suíça ou Bélgica, é a principal fonte de rendimento.

«Nesta coleção de verão vamos chegar às mil peças produzidas e talvez tenhamos de produzir mais. Está a correr muito bem, as pessoas gostam do design e do conceito.» Os tons neutros e os tamanhos únicos são determinantes.

«O que nós compramos na maioria das lojas não tem o valor real. São um produto da exploração social que sabemos que existe», diz Cristiana

«Pensámos cortes simples e harmoniosos que também fossem mais baratos de fabricar.» Os preços oscilam entre trinta e cem euros e a jovem designer tem ainda um desafio pela frente: explicar a diferença entre pagar um preço justo pelo produto e comprar roupa que dure toda a vida.

«O que nós compramos na maioria das lojas não tem o valor real. São um produto da exploração social que sabemos que existe. Nós praticamos um preço justo com o máximo de qualidade possível mas há pessoas que ainda não reconhecem a diferença. Reclamam se tem borboto. Claro que terá se usarmos todos os dias.»