Mundial: A taça que foi do céu à terra e desapareceu

Texto de Filomena Abreu

Foi como nos filmes. A preto e branco. Um homem alto e esguio recebe, confiante, o troféu que qualquer futebolista almeja conquistar. Porém, segundos depois, a timidez toma-lhe conta dos movimentos. A confusão dos sentidos estampada no rosto. Gritam-lhe os fotógrafos mais pequenos: “Levanta a taça, Bellini, levanta”, necessitados de um bom ângulo para captar a imagem. E o capitão assim fez. Em câmara lenta. Primeiro, com as duas mãos. Depois, segurando o troféu apenas com a mão direita. Foi em 1958. O Brasil tinha jogado bonito. Bateu por 5-2 a Suécia em casa e sagrou-se campeão do Mundo pela primeira vez. Aquele gesto, o erguer a taça acima da cabeça, imortalizaria Bellini. Mas mais do que isso, mudou para sempre a forma de festejar as vitórias. Desde então, todas começam assim, no instante em que se eleva o prémio aos céus. Tudo principiou ali, com Bellini e com a Jules Rimet, que um dia desapareceu sem deixar rasto.

A “Vitória” foi a taça original do Campeonato do Mundo de futebol, evento criado em 1928 após o francês Jules Rimet ter assumido o comando da FIFA (Fédération Internationale de Football Association). O primeiro Mundial ocorreu em 1930 no Uruguai. O troféu, que ficava com o vencedor durante quatro anos, acabou rebatizado em 1946, em honra de Rimet, que começou a unir o planeta pelo futebol.

Criada para premiar vitórias, a taça Jules Rimet teve um percurso acidentado. A primeira vez que desapareceu foi durante a Segunda Guerra Mundial. Após ganhar a prova em 1938, o presidente da Federação Italiana de Futebol, Ottorino Barassi, tirou-a do banco onde a guardara e, sem avisar ninguém, escondeu-a numa caixa de sapatos debaixo da cama, com medo que fosse roubada pelos nazis.

Voltaria a desaparecer em 1966, durante uma exposição no Centrall Hall de Westminster, em Londres, a quatro meses do início da competição. Foi encontrada uma semana depois por um cão chamado Pickles, que a farejou enterrada num jardim.

O último sumiço foi fatal. No ano de 1970, o Brasil ganhou a competição pela terceira vez e adquiriu o direito à posse definitiva do troféu, mas 13 anos depois a Jules Rimet foi roubada, no Rio de Janeiro. Quatro pessoas acabaram condenadas mas a estatueta nunca mais apareceu. Acredita-se que tenha sido derretida.

Depois da conquista definitiva de 70 foi necessário criar outro troféu. A “FIFA World Cup”, de aspeto mais tosco, dourada e com dois homens a segurar o planeta Terra, foi apresentada em 74 no Mundial da Alemanha. Na sua base estão gravados os nomes de todas as seleções campeãs desde então. Agora, já nenhum país fica com ela: aos vencedores são dadas réplicas banhadas a ouro. Mas esta taça também tem mistérios por resolver: o que vai a FIFA fazer em 2038, quando se esgotar o espaço para inscrever novos campeões?