Meditação, a luz ao fundo do túnel na Tailândia

EPA

Texto de Mariana Albuquerque

Tem 25 anos e é órfão. Essa foi, aliás, uma das circunstâncias que intensificou os laços que o unem às 12 crianças presas, ao longo de vários dias, na gruta Tham Luang Nang Non, na Tailândia. Ekapol Chanthawong, treinador assistente da equipa de futebol do clube Moo Pa, aprendeu, da forma mais dura, que uma simples aventura exploratória se pode transformar num pesadelo.

O técnico, que ainda não viu a luz do dia, será o último a sair da caverna. Antes dele, ainda há quatro crianças para salvar (oito delas já foram resgatadas). As opiniões dividem-se. Para uns, não restam dúvidas: Ekapol é o grande culpado do incidente, já que decidiu entrar na gruta com o grupo e ignorar a placa de perigo devido às chuvas fortes.

Para outros, não há como não admirar a forma como o treinador se transformou na grande fonte de união e força da equipa. Além de dar às crianças toda a comida e água (razão pela qual é o que se encontra em maior debilidade física), usou aquela que será, talvez, a sua maior arma: a meditação.

O ex-monge budista (sim, antes de começar a treinar as camadas jovens do clube, Ekapol passou dez anos num templo budista) ensinou os meninos a meditar e a conservar o máximo de energia possível até serem encontrados.

Um pormenor que pode ter feito toda a diferença no desfecho desta história. “Um adulto que está presente e que está calmo é, desde logo, uma grande influência para as crianças, seja em situações limite como esta, seja, por exemplo, numa sala de aula”, defendeu Margarida Cardoso, professora de Meditação do Centro Budista do Porto.

“É como se essa tranquilidade fosse contagiosa e nos levasse a encontrar forças internas que, às vezes, nem sabemos que temos. É assim que, aliás, nos conhecemos melhor”, acrescentou. Quem conhece de perto esta prática budista sabe o quanto ela pode estar a ser decisiva nesta situação específica de perigo.

“A meditação tem uma enorme intervenção a nível fisiológico e cognitivo. A forma como lidamos com a respiração pode, desde logo, pacificar-nos, apaziguar-nos”, começou por explicar. Mas não só. “Há outra questão que tem a ver com a forma como olhamos para as coisas. Quando estamos em stress, é fácil deixar que os pensamentos divaguem para o lado negro da questão. Enquanto praticantes, conseguimos ter mais perspetiva, ver a ‘big picture'”, sublinhou Margarida Cardoso.

Esta gestão emocional e comportamental pode ter sido decisiva para o controlo de sensações de claustrofobia e do medo de mergulhar. “Até porque, segundo vários estudos, a meditação ajuda-nos a trabalhar a amígdala, a zona do cérebro onde são desencadeadas reações associadas ao medo, à luta ou à fuga”, esclareceu a professora.

Um a um, os jovens têm conseguido, assim, percorrer vários quilómetros de gruta com equipamento que nunca utilizaram, sem saberem nadar e passando por zonas extremamente apertadas. A próxima fase da operação de resgate arrancará apenas na manhã de terça-feira dia 10, já que é preciso reabastecer o equipamento usado pelos mergulhadores.

Nessa altura, no desejado fim do pesadelo, Ekapol terá outra batalha. Um dos amigos do treinador, citado pelo jornal “The Washington Post”, assegura que o técnico assistente se vai culpar de não ter afastado a equipa do perigo. Talvez aqueles 12 sorrisos sejam suficientes para o ex-monge budista esquecer o dia 23 de junho de 2018.