Mário Nogueira: perfil do inimigo que nenhum governo gostaria de ter

Miguel A. Lopes/Lusa

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Os seus detratores – variam conforme a cor dos governos – perguntam como pode alguém que não leciona há mais de um quarto de século representar uma classe e interpretar com realismo os problemas dos professores e da educação em Portugal. Pois bem, Mário Nogueira não só parece ter a confiança dos docentes como faz prova de força constante numa das mais poderosas e longas (1989) carreiras do sindicalismo nacional.

O grande passo é dado em abril de 2007 com a eleição para a Fenprof, quando é já um dos rostos mais mediáticos da contestação ao novo Estatuto da Carreira Docente. Consciente do peso político e social da classe, e de quanto a sua luta motiva circunstancialmente as oposições, o secretário-geral da maior estrutura sindical de docentes entra a matar e menos de um ano depois, em março de 2008, o país assiste à maior manifestação de sempre de professores: 100 mil nas ruas, a protestar contra as políticas para a educação do governo de Sócrates, fazendo tremer a ministra e principal inimiga, Maria de Lurdes Rodrigues.

Agora, a guerra é com António Costa e Tiago Brandão Rodrigues. Em causa está a contabilização integral do tempo de serviço dos docentes, congelado durante nove anos, quatro meses e dois dias e que o Governo rejeita pagar na totalidade. Na aspereza que o caracteriza, Mário Nogueira promete a guerra, mesmo sabendo que a pretensão custaria, por ano, a partir de 2023, 600 milhões de euros que o Estado diz que não haverá.

Filho único, Mário Nogueira nasce em Tomar a 11 em janeiro de 1958 e é lá que conclui o curso liceal. É escuteiro, explorador de grutas, praticante de bilhar e de natação, sportinguista à semelhança do pai e tenciona seguir matemática. Porém, em 1975, para escapar ao serviço cívico, entra na Escola do Magistério do Ensino Primário de Coimbra. Ali, começa o interesse pelo cinema francês e pela política. Deputado na Assembleia Municipal de Coimbra, é dirigente desportivo da Associação Académica de Coimbra durante 17 anos. Termina o curso em 1978/79, com posterior licenciatura em Educação Especial. Apoiante da primeira candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho e dos Grupos Dinamizadores de Unidade Popular, frente que juntou UDP, MES, FSP e PRP, adere à União dos Estudantes Comunistas (UEC) em 1977.

Quarenta anos depois é líder da Fenprof, amado e muito odiado, leitor de Philip Roth e de Saramago e ouvinte de fado. Com eleições na Fenprof marcadas para 2019, sobre um eventual abandono, Mário Nogueira, de 60 anos, afirma apenas que ainda pensa voltar a dar aulas. Di-lo sem grande convicção, o que nele é uma raridade.