A maior biblioteca de tecidos do mundo é portuguesa

São 20 mil as referências que a Calvelex já catalogou, e há muitas mais em fila de espera. Tecidos de várias composições, cores e padrões, à disposição de jovens designers e não só. É História que se pode comprar, um metro de cada vez.

Habitualmente, as estantes de uma biblioteca acumulam livros, organizados e etiquetados segundo determinadas regras. Na biblioteca da Calvelex, a história é outra: os protagonistas são rolos de tecido de diferentes cores e feitios que se amontoam do chão ao teto nas prateleiras, totalizando um milhão de metros de pano em stock e 20 mil referências já catalogadas.

“Se eu quiser reconstruir determinada época, os anos 1980 e 90, por exemplo, tenho os tecidos e padrões para fazê-lo”, conta César Araújo, cofundador e CEO da empresa.

Situada em Lousada, a Calvelex produz vestuário de senhora desde 1985. A meio do percurso de 33 anos, transformou uma lacuna de mercado em oportunidade. “Os jovens designers tinham muita dificuldade em lançar-se porque era-lhes exigido que comprassem pelo menos 50 ou 100 metros de vários tecidos para fazer a primeira coleção”, explica.

Nascia, em 2003, a maior biblioteca de tecidos do mundo, assim chamada pela “diversidade de referências organizadas de acordo com um sistema e armazenadas em condições especiais”, segundo o empresário.

É na Póvoa de Varzim que está guardado o milhão de metros de tecido que compõe a biblioteca. O armazém tem normalmente pouca luz e uma temperatura média de 16 graus centígrados, sendo a localização uma grande cúmplice para a preservação dos materiais. “Escolhemos um edifício perto do mar porque durante o ano faz mais frio que calor [em relação a Lousada]”, explica o CEO.

Entre os 700 funcionários da Calvelex, há uma equipa de dez exclusivamente dedicada à biblioteca.

Tudo começa no armazém à beira-mar, onde os funcionários cortam, analisam e passam o tecido a ferro para atestar a sua qualidade. Depois, é atribuído um SKU (Stock Keeping Unit, código numérico que serve para identificar características, opções, preços e fornecedores do produto) às peças, que são cortadas em rodelas para amostra.

Já na fábrica principal, a informação sobre os tecidos é verificada no sistema e, depois de pedidas as referências, as amostras são enviadas ao cliente para que “tenha contacto prévio com a matéria-prima e possa escolher”, segundo César Araújo. Depois de fotografados os tecidos em estúdio, estes ficam catalogados. É por esta altura que entra em ação a equipa do Fabrics4Fashion, o site da biblioteca de tecidos que conta com 7500 referências digitalizadas.

A multiplicidade de cores é uma das características da biblioteca. “Temos milhares de básicos, porque há muitos brancos e pretos diferentes”, exemplifica César Araújo. “Se um designer vem com uma paleta de cores pensada para a sua coleção, arranjamos-lhe os tecidos com a cor mais aproximada possível.” No caso de não se conseguir a cor pretendida, é possível mandar fazê-la.

Com 37 mil referências físicas, estão por catalogar 17 mil, tarefa que, a seguir o ritmo da primeira fornada de tecidos, “levaria mais oito anos ou necessitaria de uma equipa a triplicar”, reconhece. Não há planos para acelerar o processo de catalogação, estando garantidas pelo menos 600 novas referências a cada ano.