Luís Cipriano: um maestro na Coreia do Norte

Luís Cipriano é maestro titular da Orquestra da Beira Interior e já regeu, além da Coreia do Norte, na Palestina e no Vaticano (Foto de Lisa Soares/Global Imagens)

Texto de Pedro Emanuel Santos

Há um português a dar cartas na Coreia do Norte. Ou melhor, música. Chama-se Luís Cipriano, é maestro titular da Orquestra da Beira Interior, na Covilhã, e dirigiu recentemente os principais eventos do Festival da Primavera da Coreia do Norte, o mais importante acontecimento musical daquele que é considerado o país mais fechado do mundo. “Ninguém falava inglês, mas musicalmente tudo correu lindamente. A orquestra local é composta por 80 elementos de um nível elevadíssimo. Fiz oito concertos e tudo correu bastante bem”, relata à “Notícias Magazine”.

Além disso, Cipriano foi o primeiro maestro estrangeiro a conduzir os músicos nas três maiores glórias do repertório clássico da música norte-coreana, cada uma delas dedicada aos presidentes da nação comunista: Kim Il-sung, o pai fundador do país; Kim Jong-il, o filho e sucessor; e Kim Jong-un, atual chefe de Estado. “Os norte-coreanos consideram essas obras mais importantes do que o próprio hino nacional. São músicas ao estilo militar, uma espécie de marchas.”

As coisas correram tão bem que Luís Cipriano foi logo convidado pelas autoridades a repetir a dose no Festival da Primavera de 2020. Dessa vez, levará consigo para Pyongyang 30 músicos da Orquestra da Beira Interior.

Durante as quase duas semanas que passou em Pyongyang em abril, andou sempre acompanhado por um guia oficial, como é da praxe para um estrangeiro de visita. De resto, garante ter tido liberdade máxima. “Andava vestido normalmente, fiz tudo o que quis fazer, visitei o que me apeteceu – exceto o palácio onde estão sepultados os dois primeiros presidentes, que é proibido -, tirei fotos sem limitações. Não posso dizer que me controlaram os movimentos.” O único senão foi mesmo a comida: “Bastante picante. Aliás, demasiado picante. Até a sopa. Acabava de comer e ficava com a boca em fogo durante mais de meia hora.”

As andanças internacionais não são estranhas a Luís Cipriano. Em 1998 foi convidado pelo Papa João Paulo II para um concerto privado no Vaticano. Dois anos depois, Yasser Arafat chamou-o à Palestina para as celebrações dos 2000 anos de Cristo. “Ainda hoje estou para saber como foram eles descobrir-me no meio das ovelhas”, questiona o maestro, com o humor que nunca lhe abandona o discurso.