A liberdade foi a melhor coisa que a Notícias Magazine me deu

Notícias Magazine

Tens de escrever uma coisa inédita, mãe», dizia o meu filho há dias, quando eu comentava que tinha uma crónica para escrever e que era a última para a NOTÍCIAS MAGAZINE.

Inédita para ele é uma «coisa nunca vista». Está claro que vou desiludi‑lo. Talvez pudesse escrever uma coisa nunca vista, mas não consigo. Ando há semanas a tentar perceber como se faz uma despedida e agora, diante de um ecrã branco, não sei o que dizer.

Estou na NOTÍCIAS MAGAZINE há vinte anos. Foi aqui que comecei, como estagiária, e foi aqui que cresci, aprendi o que é ser jornalista e a escrever e a olhar o mundo e os outros e a mim própria. Vinte anos é metade da minha vida.

Estava na Avenida de Ceuta quando foi a Expo’98 e na Rodrigues Sampaio, 18, quando as Torres Gémeas foram atacadas e Timor se tornou independente. Estava na Avenida da Liberdade quando tive o meu primeiro filho e nas Olaias quando tive a segunda. Fui redatora e editora e outra vez redatora e outra vez editora. Fiz entrevistas e reportagens de que me orgulho e artigos de que nem me lembro. Durante uns anos, não sei quantos, fiz a Terra do Nunca, que era o suplemento infantil da revista. Muitos achavam infantil, eu adorava. Quando comecei, mal havia internet, nos últimos tempos, tomei conta do online.

Pelo meio, fiz amigos que se tornaram família e outros que não. Fartei‑me de crescer e de trabalhar. Livre. A liberdade foi a melhor coisa que a NOTÍCIAS MAGAZINE me deu. Deve ter sido por isso que aqui fiquei tanto tempo. Gosto de liberdade.

Sei que os que me conhecem esperavam de mim uma despedida emocionada. Os sentimentos todos à vista. Mas a mim, a mais piegas das criaturas, não me apetece agora o passado, não me apetece agora pieguices, apesar de lá ao fundo a Inquietação, do José Mário Branco, e o Lembra‑me Um Sonho Lindo, do Fausto, e o Primeiro Dia, do Sérgio Godinho, e de não ser uma frase batida que me vem à memória, mas todas as histórias e pessoas que fizeram parte destes vinte anos. Essas estarão sempre comigo.

Não, não vou ceder à pieguice. Cedo, antes, à frase batida. «Este é o primeiro dia do resto da tua vida.» É. Cresci imenso nestes vinte anos. A NOTÍCIAS MAGAZINE também cresceu. Já era tempo de cada uma seguir o seu caminho. Fica bem entregue. Desejo‑lhe tudo de bom. E sei que ela retribui. Vamos, então, à vida.