Texto de Ana Tulha
“A nossa principal angústia é termos um hospital parcialmente destruído.” Foi com esta frase que José Moreira da Silva, diretor clínico do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNGE), anunciou o murro na mesa que resultou numa das demissões mais expressivas de sempre no Serviço Nacional de Saúde: 52 médicos com funções de chefia disseram “basta”. Basta de problemas estruturais, de orçamentos insuficientes. Basta da falta de profissionais.
A demissão – só revogável no caso de haver um “cheque bem gordo” que ajude a melhorar as infraestruturas – abrange 95% das chefias da instituição e tem como principal rosto José Moreira da Silva, diretor clínico e “líder da revolta”.
Até por ser, ele próprio, membro do Conselho de Administração (CA) que, com esta tomada de posição, ficou em xeque – na conferência de imprensa em que foi anunciada a demissão, Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, pediu mesmo a saída de António Dias Alves, presidente do CA, invocando que este “não foi competente para reverter situações que se adivinhavam há meses”.
Curiosamente, confirmou a “Notícias Magazine”, antes de assumir funções como diretor clínico do CHVNGE (em abril de 2017), José Moreira da Silva tinha piscado o olho ao cargo de presidente do Conselho de Administração. A pretensão esbarrou, no entanto, na Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP), que não lhe terá reconhecido um perfil adequado para a função.
Tido pelos colegas como uma pessoa “afável e bem-disposta, voluntariosa e sempre disposta a ouvir” (ainda que também haja quem lhe aponte um certo lado “cinzento” na tomada de decisões em situações limite), José Moreira da Silva licenciou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e especializou-se em Imunoalergologia no início da década de 90.
Em dezembro de 1993, entrou nos quadros do Hospital de S. João, como assistente de Imunoalergologia, onde ficou até 2007, ano em que foi convidado para dirigir a Unidade de Imunoalergologia do Centro Hospitalar Gaia/Espinho.
Foi também presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos entre 2005 e 2010. Atualmente, além de diretor clínico do CHVNGE, integra a Comissão da Direção-Geral da Saúde para as normas clínicas e a Comissão para a reformar hospitalar. Além de liderar a revolta que já chegou ao parlamento – administração e demissionários vão ser ouvidos pela comissão parlamentar de Saúde, na próxima semana.