
Texto de Alexandra Tavares-Teles
Birra do diretor ou censura da administração? As versões do caso que levou à demissão de João Ribas da Direção do Museu de Serralves são inconciliáveis: Ribas ter-se-á sentido desautorizado e censurado; a administração alega falta de profissionalismo do diretor.
Em causa, a criação de espaços reservados para parte das fotografias que compõem a “Robert Mapplethorpe: Pictures”, exposição criada de raiz para Serralves e comissariada pelo próprio João Ribas. Que as fotografias de conteúdo sexual explícito e de temática sadomasoquista estariam confinadas a salas reservadas era algo que estava combinado e que Ribas “sabia desde a primeira hora”, garante a administradora Isabel Pires de Lima, surpreendida pela decisão do diretor demissionário. O que levou então à demissão? A questão continua por esclarecer devidamente e a posterior troca de galhardetes não trouxe luz ao diferendo.
Ribas chegou a Portugal em 2014, vindo dos Estados Unidos, escolha pessoal da então diretora Suzanne Cotter para o lugar de seu adjunto. Pela originalidade do trabalho, pelo compromisso com os artistas e o pensamento, pelo currículo raro em alguém tão jovem – 34 anos apenas. Cotter apostava “num contributo vital para a direção artística do museu e para o seu programa artístico”.
Formado na New School of Social Research, em Nova Iorque, Ribas trazia a experiência conseguida em curadorias no The Drawing Center que mereceram destaque em jornais de referência e quatro prémios de melhor exposição do ano atribuídos por instituições como a Associação Internacional de Críticos de Arte, de Nova Iorque.
Trazia o reconhecimento da “alta qualidade do seu trabalho” pelo Centro de Artes Visuais do famoso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT List Visual Arts Center,) em Cambridge, onde fora curador durante quatro anos (2019 a 2013) e inúmeros trabalhos críticos e ensaísticos registados em publicações como o The New York Sun, Artforum e Art in America. Trazia mais de três dezenas de exposições, entre Portugal, Estados Unidos e outros países e a docência nas prestigiadas Universidade de Yale, na School of Visual Arts de Nova Iorque e na Rhode Island School of Design.
Percurso raro do crítico de arte e curador que começou por estagiar no MoMA PS1, centro de arte experimental contemporânea, e que vivia desde os nove anos fora de Portugal. Nada que o impedisse de afirmar na chegada ao Porto: “Sinto-me em casa”.
Filho de emigrantes minhotos, João Ribas nasceu em Braga mas cresceu em Nova Iorque. “Em criança tinha um amor profundo pela música e pela pintura, que mais tarde se profissionalizou, por assim dizer”, diria em 2006. Profissionalização que mereceu à administração do Museu de Serralves elogios rasgados. Pelo “conhecimento profundo da arte portuguesa”, pela “visão programática muito estruturada, estimulante e refrescante”. Isto, em janeiro de 2018. Oito meses depois, Ribas é acusado de ser pouco profissional.