João Paulo Cotrim: «Estamos a trabalhar para ser o futuro dos alfarrabistas»

Texto de Ricardo J. Rodrigues | Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens

Se é para fazer livros, então João Paulo Cotrim quer fazê-los bem. «É claro que o mais importante é o conteúdo, mas depois há a oportunidade de trabalhares também o objeto, tornar o livro único. E é isso que estou a aprender, a tornar os meus livros no futuro dos alfarrabistas», ri-se. O facto de trabalhar num mercado de nicho ajuda. Desde que fundou a editora Abysmo que o objetivo foi esse: apresentar trabalhos desafiantes, no texto e na imagem.

Cotrim é um nome incontornável quando se fala da banda desenhada portuguesa. Como jornalista, primeiro, e editor, depois, lançou a nova geração de autores que despontavam nos anos noventa.

No catálogo da Abysmo tem nomes como Valério Romão, Sérgio Godinho, António Araújo, Ferreira Fernandes ou Adolfo Luxúria Canibal.

«Temos uma tradição muito forte, com nomes como Stuart de Carvalhais, Almada Negreiros e Bordallo Pinheiro, que em determinada altura não era valorizada. Depois houve uma geração que se afirmou nos anos 1960 e 1970, na era dourada dos quadradinhos. Mas deparei-me com uma nova geração de autores que não tinha onde publicar e foi aí que comecei a sonhar em montar uma editora.»

Criou uma revista para albergar tanto talento, a LX Comics. Em 1996 assumiu o comando da Bedeteca de Lisboa e começou a publicar e montar exposições para autores que são hoje figuras maiores da ilustração: Cristina Sampaio e Jorge Colombo, Nuno Saraiva e António Jorge Gonçalves – mais tarde João Fazenda e André Carrilho.

Agora, na Abysmo, juntou ao rasgo dos desenhos o das palavras. No catálogo tem nomes como Valério Romão, Sérgio Godinho, António Araújo, Ferreira Fernandes ou Adolfo Luxúria Canibal. Obras para sobreviver ao tempo.

Uma vida em números

6 – Editora
A editora Abysmo, fundada por ele, acabou de completar o sexto aniversário.

70 – Livros
São sete dezenas de livros os que publicou com a chancela da Abysmo.

2 – Chancela
Além da Abysmo, tem uma outra chancela com trinta livros publicados, mais dedicada às artes visuais e à banda desenhada. Chama-se arranha-céus.

1965 – Nascimento
Nasceu em Lisboa há 53 anos. É na capital que vive, também.

20 – Trabalho
Começou a trabalhar como jornalista aos 20 anos, na ANOP. Passou pelo Expresso, O Independente, Cosmopolitan, RTP, SIC e TSF.