João Lourenço: nervos de aço

Foto: José Coelho/EPA

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Como experimentado jogador de xadrez, caracterizam-no a habilidade estratégica e o uso implacável da lógica. A capacidade de avaliar, em si e no oponente, pontos fortes e fracos. A noção de que um mau movimento pode deitar a perder um percurso e a rara facilidade de concentração. Os nervos de aço.

Eleito presidente de Angola em agosto de 2017, apresentou-se aos eleitores decidido a reconstruir a economia e a combater a corrupção instalada. Pedem-lhe os angolanos que vá mais longe e faça de Angola o país por todos sonhado. Tarefa hercúlea, a do filho do enfermeiro Sequeira João Lourenço, natural de Malanje, e da costureira Josefa Gonçalves Cipriano Lourenço, natural do Namibe, que ocupa hoje o primeiro lugar do país, para o qual se preparou nos últimos anos.

No início do século, era secretário-geral do MPLA e líder da bancada parlamentar, lembrava ao presidente José Eduardo dos Santos o compromisso assumido por este de deixar o Futungo, assumindo pela primeira vez a disponibilidade para uma candidatura. Porém, perante o recuo, mais um, do então presidente, João Lourenço soube aguardar com a paciência que tão bem o define. Em funções de chefia. Até 2014, como 1.º vice-presidente da Assembleia Nacional; de 2014 a 2017, na pasta da Defesa.

Pai de seis filhos e marido de Ana Dias Lourenço, economista e ex-ministra de Angola, o terceiro presidente da história do país, quinto líder do MPLA e primeiro militar no exercício de ambas as funções nasceu no Lobito há 64 anos. Fez os primeiros estudos em Bié, onde o pai se encontrava em residência vigiada por atividade política clandestina. Na capital, frequentou o Instituto Industrial de Luanda, seguindo, em 1978, para a União Soviética. Aluno da Academia Superior Lenine ao longo de quatro anos, obteve formação militar e o master em Ciências Históricas.

Apreciador de equitação e leitura, poliglota – mantém conversa fluente em russo, inglês e espanhol – e com formação em artilharia pesada, João Lourenço iniciou a atividade política em agosto de 1974.

Apreciador de equitação e leitura, poliglota – mantém conversa fluente em russo, inglês e espanhol – e com formação em artilharia pesada, o general na reserva iniciou a atividade política em agosto de 1974, precisamente quarenta e três anos antes de atingir a presidência angolana, juntando-se, então, aos movimentos de luta pela libertação e participando, depois, na longa guerra civil.

João Lourenço subiu ao poder com o país em grave crise económica, sobretudo devido à queda do petróleo, num cenário antigo de corrupção instalada e com a oposição a José Eduardo dos Santos a denunciar a falta de liberdade. Respeitado interpares, os mais céticos reconhecem-lhe “alguma coragem”.

Esperam, agora, sinais mais claros no que diz respeito à revisão da constituição. Direto, apontou baterias a Portugal e à justiça portuguesa, a propósito do processo que envolve o ex-vice de Angola, Manuel Vicente. Um “irritante” que a visita de JLo – assim é conhecido – a Portugal pretendeu fazer esquecer.

Cargo:
Presidente de Angola desde agosto de 2017

Nascimento:
05/10/1954
(64 anos)

Nacionalidade:
Angolana