Há um pó negro que promete desintoxicar o corpo

Texto de Filomena Abreu

A promessa de uma rotina de beleza e de saúde mais simples, ecológica e até mais barata está a nortear a procura de produtos orgânicos com princípios ativos naturais. Não percebeu a segunda parte da frase? É simples: a maioria dos artigos que se encontram no mercado são sintéticos, o que significa que as matérias-primas são quase todas criadas em laboratório para imitar os ingredientes naturais. O uso de conservantes, como os parabenos, tem causado polémica porque há quem os relacione com o aumento da incidência de cancro.

Há alternativas? Sim: os produtos orgânicos e os naturais, descritos como mais amigos do ambiente e também menos agressivos para o corpo. E é aqui que se encaixa o carvão vegetal ativado, um ingrediente que, aos poucos, tem ganho espaço. Vendido em comprimidos ou em pó na maioria das ervanárias, está também presente na comida, como é o caso dos gelados, e até nas pastas dos dentes, prometendo aclarar o esmalte. A sua cor negra não assusta quem procura nele a resolução para problemas relacionados com a intoxicação do organismo.

Mas será que as suas propriedades são assim tão vastas? Vamos por partes. O carvão vegetal obtém-se a partir da carbonização da madeira, seguida de um processo de ativação (isto é, o aumento das suas propriedades), resultando na produção de um material bastante poroso, com grande capacidade para absorver produtos químicos e toxinas.

Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, explica que, “de acordo com a evidência científica atual, os seus supostos efeitos benéficos limitam-se à redução da flatulência”. Por isso, alerta para “o risco de nem toda a informação divulgada ser fiável”. E chama ainda a atenção para o seguinte: “O carvão ativado pode interferir na absorção intestinal de nutrientes e de fármacos, pelo que a sua utilização deve ser cuidada e precedida de aconselhamento por parte de um profissional de saúde.”