Texto Sara Dias Oliveira
Um animal gordinho, com mais 30% do seu peso ideal, não é um animal saudável. Seja cão, seja gato. A obesidade não é um problema exclusivo dos humanos, o peso a mais também “ataca” o reino animal. Aqui a obesidade é igualmente uma acumulação excessiva de gordura, provocada por uma ingestão calórica muito acima do gasto energético que o animal faz nas suas atividades diárias, o que leva à acumulação de tecido adiposo um pouco por todo o organismo. É um problema de saúde, não há qualquer dúvida.
Animais obesos são animais de aspeto roliço e pesado, que andam sempre cansados, com comportamentos sedentários, passam muito tempo deitados a dormir. As rotinas ressentem-se. “Os cães apresentam dificuldade e relutância em ir à rua, recusando-se muitas vezes a fazer esta simples atividade do dia-a-dia, não querendo correr ou brincar. Os gatos são mais subtis e basicamente defendem-se, deixando de fazer certas coisas, como saltar para os sítios mais altos de que tanto gostavam ou brincar com a sua bola favorita”, adianta Joana Pereira, médica veterinária do Departamento de Comunicação Científica da Royal Canin Portugal, que fabrica alimentos para animais domésticos.
Cães e gatos obesos, já se sabe, são insistentes a pedir alimentos. São pedinchões e gulosos. Há, porém, donos que adoram ver os seus animais comer, detetando no apetite um sinal de saúde. Só que não é assim. “Estabelece-se então um padrão de comportamento pouco saudável, em que cada miar ou ladrar na direção do reservatório da comida é interpretado como fome, quando muitas vezes estes animais estão a pedir apenas atenção, mas foram habituados a interagir com os seus tutores assim, através da comida”, refere.
Desta forma, é muito fácil cair numa situação de obesidade. O que não é nada bom. A qualidade de vida fica comprometida, os problemas de saúde aparecem mais rapidamente – e alguns provocam desconforto e dores severas –, a esperança média de vida é reduzida. Os animais vivem menos e pior. E há mais despesas para os donos.
Um animal com excesso de peso encontra-se 10 a 20% acima do seu peso ideal. Um obeso ultrapassa os 30%.
Animais obesos, sublinha Joana Pereira, “sofrem quase invariavelmente de problemas osteoarticulares, respiratórios e cardiovasculares, têm maior tendência para problemas urinários, dermatológicos e problemas durante o parto, no caso das fêmeas. Nos cães, aumenta muito o risco de pancreatite (associado às hiperlipidemia), nos gatos obesos o risco de diabetes aumenta 3,9 vezes.”
Os cães comem habitualmente duas vezes por dia, antes de irem à rua. Os gatos preferem ir fazendo pequenas refeições ao longo do dia, e o recomendável é distribuir 1/3 da dose de manhã, a mesma quantidade ao final da tarde, quando os donos regressam a casa, e o restante antes de deitar.
E água sempre por perto, fresca e limpa e de acesso permanente para beber sempre que tenham sede. Diariamente, um cão ou um gato bebe cerca de 50 mililitros de água por cada quilo que tenham no corpo. Um aumento da ingestão de água acima dos 100 mililitros, por cada quilo, pode significar problemas de saúde e, nesses casos, recomenda-se uma ida ao veterinário.
Os animais também precisam de um plano nutricional feito à medida. Um cão muito pequeno, como um Chihuahua, não tem as mesmas necessidades nutricionais que um gigante como o Grand Danois. “E estas diferenças são ainda mais abismais durante o seu período de crescimento”. Da mesma forma, um gato esterilizado, que viva exclusivamente no interior e tenha um estilo de vida caseiro, não tem os mesmos requisitos nutricionais que um gato que tenha acesso ao exterior, ou que uma fêmea grávida ou que esteja a amamentar. “E as diferenças na fisiologia digestiva limitam a forma como cada espécie digere um mesmo alimento, a forma como aproveitam os nutrientes fornecidos e condiciona bastante as suas necessidades nutricionais específicas”, acrescenta.
As diferenças anatómicas e comportamentais condicionam a forma de escolha do alimento e o padrão alimentar de cada espécie.
Os cães necessitam de alimentos com teores proteicos mais elevados e com um perfil de aminoácidos e vitaminas mais completo, para se manterem saudáveis. Quando se comparam as necessidades calóricas de um cão de quatro quilos e de um gato com o mesmo peso, as do cão são muito superiores, necessitando de um alimento que lhe forneça mais energia – em alguns casos até cerca de 1,5 vezes mais da que deve ser fornecida a um gato.
A alimentação dos animais adapta-se às rotinas familiares. “Todos os animais devem ter acesso a uma alimentação completa, equilibrada, segura e adequada à etapa da vida em que se encontram, ao seu estilo de vida e às necessidades específicas”. Preparar as refeições não deve ser um fardo para os donos, mas há cuidados a ter na segurança alimentar, preocupações com a qualidade e equilíbrio nutricional, e os riscos de provocar problemas de saúde. Os alimentos comerciais, secos e húmidos, acabam por ser uma grande ajuda porque pesam várias circunstâncias e requisitos.
Os gatos não gostam que se misturem alimentos secos e húmidos na mesma taça. Os cães, pelo contrário, apreciam essa junção.
Os animais precisam de um plano nutricional. “Após escolher o alimento mais adequado ao animal, deve determinar-se a quantidade diária de alimento de que o animal precisa para suprir as suas necessidades calóricas (o que geralmente vem indicado nas embalagens para o peso de cada animal)”, sugere a médica veterinária. É preciso decidir dar apenas alimento seco ou conjugar com o alimento húmido correspondente, da mesma gama, e que permita respeitar o equilíbrio nutricional.
“Os alimentos húmidos, completos e de qualidade, além de serem muito apetecíveis, permitem aumentar o fornecimento de água, o que é particularmente benéfico em animais com tendência para beber pouca água e predisposição para problemas urinários, como é o caso dos gatos e dos cães pequenos”, adianta a responsável.