O giz das nossas memórias de infância

Texto de Cláudia Pinto

No dia do arranque do novo ano letivo, eis um pouco da história de um objeto que carrega o legado de novas aprendizagens. No decurso desta narrativa, não se admire se der por si a afirmar, “eu ainda sou do tempo das ardósias e do giz”, e de questionar os seus filhos sobre o tema e receber como resposta que estas ferramentas já não são lá muito utilizadas nas salas de aula. Quantos leitores desta revista terão aprendido a escrever e a fazer contas com a ajuda de um giz?

Estão descritas algumas descobertas, por parte de arqueólogos, de desenhos com giz realizados na pré-história. Só muito mais tarde, já no século XIX, é que a sua utilização surgiu sobretudo como ferramenta de escrita por parte dos professores nas salas de aula. Mas, afinal, como é produzido o giz? Trata-se de um objeto que resulta do carbonato de cálcio proveniente de rochas sedimentares, uma mistura de gesso, água e calcário.

Apesar de algumas escolas ainda recorrerem aos quadros com giz e de este ser um recurso mais barato, a sua prática tem vindo a cair em desuso. Pelo facto de o produto lançar um pó que já foi associado ao aparecimento de alergias; por sujar demasiado; e por se gastar rapidamente; porque surgiram, entretanto, alguns substitutos.

Novas tecnologias e materiais foram entrando nas escolas, trazendo, por exemplo, os quadros brancos escritos a marcador, facilmente apagáveis e sem deixar partículas no ar, ou os quadros interativos. Ambos são de uso corrente em vários estabelecimentos de ensino públicos e privados de Portugal. Os últimos exigem o recurso a computador e projetor multimédia e espelham a importância crescente das ferramentas digitais, principalmente entre as crianças.

Sandra Leal, 38 anos, professora do primeiro ciclo, acompanhou as várias fases. Chegou a dar aulas nas primeiras escolas onde trabalhou recorrendo ao giz e ao quadro preto. Era algo de que gostava exceto “quando algum aluno ia ao quadro e fazia chiar o giz”. Sim, causava arrepios. “Para os alunos do primeiro ano não era fácil pois faziam muita força e lá se partia o giz. Os dias que mais gostava eram aqueles em que chegava e a auxiliar de educação tinha deixado paus de giz novos”, recorda.

Entretanto, a substituição pelos quadros brancos veio facilitar tudo. “Não há pó no ar nem espirros quando se limpa o apagador”, salienta.

Com o advento dos manuais digitais, basta projetar e os alunos escrevem diretamente. “Funcionam como os tablets e as crianças gostam porque são muito intuitivos”, explica a professora. Por outro lado, foi também a inovação que permitiu o aparecimento de giz antialérgico, menos nocivo e desconfortável na utilização.