Fui recebido com um «welcome», ao qual respondi «obrigado»

Texto de Francesco Paulo Marconi

À saída do avião, acabado de aterrar em Lisboa, vindo de Nova Iorque, a hospedeira cumprimentou-me com um «welcome». Respondi: «Obrigado.» Perante a repetição maquinal da saudação, senti-me, uma vez mais, como se não pertencesse aqui. Estava a tornar-se um sentimento recorrente.

De cada vez que regressava, tinha a vaga sensação de que me olhavam como alguém que já não era do lugar. Suspeito que, provavelmente, poderia ser uma criação minha, pois a verdade é que todos me recebiam muito bem, como se nunca tivesse partido. Mas aqueles momentos de desconforto faziam-me sempre refletir sobre a razão por que saí de Portugal.

Saí porque queria ser melhor. É claro que para progredir não é preciso partir. Há muitos sítios que me proporcionaram, e ainda proporcionam, boas condições para desenvolver competências em diferentes aspetos. Profissionais, pessoais, intelectuais. E Portugal foi um deles. Mas, no meu caso, pensei que seria melhor partir.

Cresci cá, mas fascinado por uma outra cidade: Nova Iorque. A ideia de viver na cidade que nunca dorme foi sempre o meu sonho. Com 16 anos comprei uma fotografia a preto de branco da linha do horizonte de Manhattan e pendurei-a na parede por cima da cama. Foi a maneira de, visualizando todas as noites o meu objetivo, criar uma motivação forte e intensa. Anos mais tarde, é de Nova Iorque que escrevo este livro.

Por vezes penso em voltar para Portugal, de forma definitiva. Ainda não o fiz porque quero regressar na melhor versão de mim mesmo. Sigo Portugal à distância, com saudade e esperança de voltar. Tenho orgulho no seu passado, vibro com emoção com os sucessos do seu presente. É um lugar-comum afirmar que o passado histórico define a nossa identidade enquanto país.

Mas estando longe, descobri que pode desempenhar também um papel inspirador a nível individual: como se os navegadores que noutros tempos protagonizaram a nossa história fossem hoje representados por esses outros navegantes do mundo profissional que constroem a sua e, assim, também uma parte da nossa história.

Observei e anotei. Literalmente, anotei, escrevi. E o que começou por ser uma forma de sobrevivência social tornou-se uma paixão.

Tendo partido, habituei-me a contar a minha história, e percebi que ao contá-la me ia reconstruindo. Tudo já tinha começado na infância quando me questionavam sobre o meu nome. Em Portugal, Francesco Marconi é um nome incomum, que vem da minha ascendência italiana, o que desde logo me obrigou, ainda que de forma despreocupada, a pensar quem era e de onde vinha.

Para não perder o rumo continuo a pensar como me fui construindo. Penso na minha história. É essa história que decidi contar neste novo livro. Não porque seja extraordinária, mas porque a olho como uma oficina cheia de utensílios, de mecanismos que funcionam outros que não funcionaram. Não quero propor um exercício de autoajuda ou qualquer ilusão, mas partilhar sem receio o modo como fui desenhando um trilho.

Nem todas as histórias têm um bom começo. A minha também não. Quando cheguei a Nova Iorque, para fazer um estágio nas Nações Unidas, estranhamente, não me senti realizado. Pelo contrário, os dias iam passando, o tempo ia-se tornando pesado e, de forma lenta, a deceção foi tomando conta de mim. Não fazia ideia de como começar a minha aventura, o que queria fazer, nem em que zona queria viver. Sentia-me perdido, até perceber que estava na hora de olhar para as razões que me levaram a Nova Iorque e redefinir o plano que tinha.

Para isso, foi fundamental focar-me no mundo à minha volta. Observei, em detalhe, o modo como as pessoas agiam. Observei e anotei. Literalmente, anotei, escrevi. E o que começou por ser uma forma de sobrevivência social tornou-se uma paixão. Passava dias a pesquisar, a ler sobre o modo como as pessoas comunicavam, sobre psicologia, estratégia, procurava um padrão que me indicasse um caminho.

Uma parte do que li e vivi está descrita neste livro. O que obtive talvez se possa chamar um algoritmo, uma fórmula a utilizar para nos adaptarmos e depois para vencer. Dei-lhe o nome de AVANCE, porque o objetivo é avançar, mas também porque o acrónimo funciona bem. A essência da fórmula é o desejo.

Uma vida, um determinado alvo, as pessoas à nossa volta. Que desejos temos, afinal, para a nossa vida e para a vida daqueles que amamos? Esta fórmula ajuda-nos também a maximizar o tempo que dedicamos ao que realmente interessa, para conseguirmos construir o que de facto nos importa.

Frontal e pragmático: foi assim que quis compor este livro onde partilho a exemplaridade que recolhi, e esboço como poderão ser aplicados princípios análogos para escrever a própria história.

Muitas vezes ficamos presos ao que julgamos não ser possível. Mas quando tomamos o controlo da história que queremos contar deixa de haver limites. E se um dos segredos para realizar o nosso projeto e os nossos sonhos fosse escrever a nossa própria narrativa – uma narrativa que nos torne diferenciados e únicos?

Passei os últimos cinco anos a estudar o modo como certas histórias inspiram feitos extraordinários. Anotei-as, descrevi-as, pensei-as, trouxe-as para a minha vida. E ao fazer isso percebi porque podem ser inspiradoras. Frontal e pragmático: foi assim que quis compor este livro onde partilho a exemplaridade que recolhi, e esboço como poderão ser aplicados princípios análogos para escrever a própria história.