Filipe Vargas: «É preferível espetarmo-nos ao comprido do que fazer uma coisa morna»

Texto de Sara Dias Oliveira | Fotografia de Carla Pires

O seu percurso não pode ser contado em linha reta. Não é um caminho óbvio, traçado com antecedência a régua e esquadro. Aos 32 anos, mudou de vida, mudou de cidade, deixou Lisboa e partiu para Madrid para frequentar um curso de teatro. Para trás, ficava a profissão de criativo em agências de publicidade.

Sempre soube que não iria ser copywriter a vida toda, andou dois anos a tentar descobrir o que gostaria de fazer, continuando a fazer publicidade. «Era uma área interessante, mas sabia que me ia apetecer fazer algo mais pessoal», lembra. Foi o que aconteceu. A vontade de ser ator já andava a espreitar e acabou por ver a luz do dia.

«Cada um tem o seu ritmo, o seu tempo, e somos mais felizes se vivermos de acordo com isso»

Aos 45 anos, a vida tem-lhe mostrado que as coisas surgem no tempo que têm de surgir. «As coisas acontecem quando têm de acontecer, as coisas aparecem quando têm de aparecer.»

E o ator Filipe Vargas aprendeu que não vale a pena viver numa roda de ansiedade, em esperas intermináveis. «Não há uma altura certa e nada é definitivo», refere.
O que tiver de acontecer acontecerá, independentemente da idade que se tenha, independentemente do sítio onde se esteja.

«Cada um tem o seu ritmo, o seu tempo, e somos mais felizes se vivermos de acordo com isso. É mais honesto se fizermos isso à nossa maneira.» Aos 32 anos, decidiu tirar um novo curso, aos 35 estava formado. Era ator. E voltou a fazer as malas de Madrid para Lisboa.

Voltou para ser ator de corpo e alma. Fez televisão, fez cinema e, no ano passado, pisou um palco de teatro pela primeira vez na peça Noite Viva, encenada por João Lourenço. Chama-lhe uma «renovação de votos» da profissão. Como um casamento.

«Espero que a vida não pare de me surpreender.»

Esteve no teatro até meados do mês passado, neste momento, faz parte do elenco da telenovela A Herdeira, da TVI. Depois, logo se verá. O tempo sabe o que faz. Seja como for, Filipe Vargas não é de se instalar numa zona de conforto.

«Temos a obrigação de arriscar. É preferível espetarmo-nos ao comprido do que fazer uma coisa morna, insossa», defende. Agora sabe que quer ser ator pelo resto do seu tempo. «E espero que a vida não pare de me surpreender.»

UMA VIDA EM NÚMEROS

18 – LISBOA
Idade que tinha quando saiu de casa dos pais, nas Caldas da Rainha, para estudar Marketing e Publicidade em Lisboa. «Foi um ano muito marcante. Conheci uma nova cidade, fiz um novo grupo de amigos, e foi o ano em que entrei pela primeira vez no Frágil.»

2017 – ESTREIA
Ano em que se estreou no teatro com a peça Noite Viva, no Teatro Aberto, em Lisboa.

10 – CARREIRA
Uma década como ator. No cinema, trabalhou com Manoel de Oliveira, Joaquim Leitão, João Botelho, entre outros realizadores.

3 – LOLA
Idade da sua cadela Lola. É uma presença importante na sua vida. «Mudou-me bastante, mudou as minhas rotinas, é uma companhia extraordinária.» Costuma dizer que o mundo seria melhor se as mulheres estivessem no poder e toda a gente tivesse um cão. Ou um gato.

32 – MADRID
Idade em que deixou Lisboa e partiu para Madrid para estudar teatro. Aprendeu uma nova língua, conheceu uma nova cidade, fez um novo grupo de amigos.

35 – REGRESSO
Tinha 35 anos quando regressou a Lisboa depois do curso concluído. Fez um casting para a série Conta-me como Foi, foi selecionado e voltou para Portugal.