Estudo: os gémeos vão ajudar a perceber o impacto do ambiente na saúde

Texto Sara Dias Oliveira

O objetivo é perceber qual é o peso da genética e do meio ambiente no desenvolvimento das crianças e na ocorrência de doenças. O projeto BiTwin, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), um dos primeiros a nível mundial a focar-se no estudo de gémeos, surge precisamente para analisar todas as influências ambientais sobre a saúde a que qualquer ser humano está exposto ao longo da vida.

E isso inclui muitos contextos: a alimentação, os estilos de vida, as interações sociais, os processos endógenos que começam logo no momento da gestação (in utero), e até mesmo a saúde dos pais no momento da conceção. Serão também estudados recém-nascidos não gémeos, para ajudar a compreender melhor o impacto do período intrauterino no desenvolvimento das crianças.

Até ao momento, participam 237 famílias e a fase de recrutamento está aberta até ao final deste ano

Cláudia Ribeiro, investigadora do ISPUP, envolvida no projeto, adianta que este pretende «esclarecer como o ambiente pode promover ou inibir características genéticas existentes à partida, fundamental para melhor compreender melhor os fenómenos da epigenética.»

«Os objetivos inicias do projeto serão estudar a obesidade, doenças respiratórias, alérgicas e neurodesenvolvimento porque podem ser medidas no início de vida. Ao estender o seguimento destas crianças ao longo da vida poderá permitir o estudo posterior de outros fatores», adianta a investigadora à NM.

A alimentação, os estilos de vida, as interações sociais, os processos endógenos que começam logo no momento da gestação, são alguns dos fatores em análise.

O foco inicial do projeto são doenças metabólicas, respiratórias, alérgicas e desenvolvimento neuronal. A informação está a ser recolhida através de questionários e, em simultâneo, estão a ser colhidas amostras biológicas como urina, sangue materno, sangue do cordão umbilical, placenta, cabelo do bebé e da mãe, o primeiro leite materno.

A opção por gémeos faz todo o sentido neste projeto já que, sublinha Cláudia Ribeiro, «quando verdadeiros (monozigóticos) têm essencialmente a mesma informação genética, as diferenças observadas entre eles ao longo do tempo só podem ser explicadas devido a fatores ambientais.»

«Também os gémeos falsos (dizigóticos) serão uma mais-valia neste projeto, pois apesar de terem um código genético diferente, quando comparados com os gémeos monozigóticos permitem-nos perceber a importância da hereditariedade», acrescenta.

Sangue materno, placenta, cabelo do bebé e da mãe, o primeiro leite materno fazem parte das amostras biológicas.

O BiTwin, que arrancou em fevereiro de 2017 no Centro Hospitalar de São João, e que está atualmente a decorrer também no Centro Materno Infantil do Norte, no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e no Hospital Pedro Hispano, pretende acompanhar várias crianças ao longo da vida. Até ao momento, participam 237 famílias e a fase de recrutamento está aberta até ao final deste ano.

Os primeiros resultados deverão ser conhecidos após terminar essa seleção. «As respostas aos objetivos das coorte (como obesidade, doenças respiratórias, alérgicas e neurodesenvolvimento) só serão possíveis quando tiver decorrido tempo suficiente para avaliar os eventos, que prevemos ser aos dois anos das crianças», adianta a investigadora do ISPUP.