A estranha língua preta e peluda

Texto de Filomena Abreu

Começam por sentir um gosto estranho na boca. E notam também uma textura peculiar. Quando se põem em frente ao espelho veem que a língua está preta e, à primeira vista, coberta de pelos. O que é isto? Trata-se de um transtorno conhecido como “língua negra pilosa” ou “língua peluda”.

Mas, calma, a doença é reversível e não deixa sequelas, muito embora seja desagradável e até possa provocar alguns traumas, não só em quem padece dela, mas também nos que presenciam o episódio.

Porém, há coisas que necessitam ser clarificadas. Primeiro, apesar de parecer, e do nome que lhe é atribuído, na verdade não chegam a nascer pelos na língua. É a cor e a textura peculiar que visualmente nos levam a achar que são pelos, mas não são.

O que acontece é que, normalmente, a língua é coberta por estruturas cónicas, chamadas papilas filiformes. Geralmente, essas papilas têm aproximadamente um milímetro de comprimento. Por isso, nos casos mais severos, a extensão de cor escura pode ser bastante acentuada, o que faz com que pareça que existem pelos. Quando se acumulam bactérias e fungos nessa zona a língua pode ganhar tons como preto, castanho, branco ou verde, dependendo da causa.

E como é que se fica nesse estado? A “língua negra” pode ser um dos efeitos colaterais de alguns antibióticos, principalmente a tetraciclina. No entanto, resulta com frequência de má higiene bucal ou provocada pelo uso de elixir que pode irritar a mucosa da língua. O tabagismo e algumas infeções também podem causar o fenómeno.

A patologia, que tem como sintomas náuseas, halitose e distúrbio degustativo, é considerada relativamente comum e atinge cerca de 13% da população, segundo a Academia de Medicina Bucal dos EUA. Os médicos recomendam que se aumente a hidratação e que passe a lavar a língua com uma escova macia. Nada vai melhorar se não tiver uma boa higiene bucal. E é sempre importante consultar um especialista.

A Academia Americana de Medicina Bucal dos EUA recomenda ainda cuidado redobrado a quem já tenha passado pela doença, pois as chances de que ela se manifeste novamente são mais altas.

Fotografia: The New England Journal of Medicine