
Texto de Ana Sofia Reis
A obsessão pela ostentação e pelo luxo conquistaram a indústria da moda durante os anos 2000. O desejo de comprar para mostrar aos outros era – e ainda é – bastante comum na sociedade. Ter um closet enorme era o sonho de qualquer um. Com o passar do tempo, essa negra realidade de não medir os limites da cobiça e a ideia de quanto mais melhor tornaram as pessoas cada vez mais consumistas.
O sentimento de não ter nada para vestir, mesmo com o armário cheio, é algo comum hoje em dia. Segundo um artigo publicado pelo “Fashion Revolution”, um movimento global que tem como objetivo fazer da moda um setor “mais transparente, ética e responsável”, a indústria da “fast fashion”, que leva o consumidor às últimas tendências de moda em tempo recorde e com preços acessíveis, possui uma produção de cerca de 100 mil milhões de peças por ano. É uma das mais poluentes do mundo, fazendo com que a questão ambiental seja alarmante.
“O mais importante que aprendi foi que ter um guarda-roupa sustentável não significa apenas comprar peças de marcas sustentáveis ou éticas. Para mim, ser sustentável é estender a vida de alguma coisa: revender, trocar ou comprar em segunda mão”, escreveu Pandora Skyes, jornalista e consultora de moda, na revista “Elle”.
“A sustentabilidade não é uma posição absoluta, significa fazermos o melhor que conseguimos e considerarmos, cuidadosamente, tudo o que entra em nossa casa” remata Pandora.
Em 2017, um centro comercial londrino testou uma loja temporária com serviço de aluguer de roupa. E os resultados surpreenderam. Nos últimos tempos, o aluguer de peças de roupa está a tornar-se uma opção cada vez mais popular, particularmente para eventos como casamentos ou festas.
Segundo Shika Bodani, fundadora do site de aluguer “Front Row”, à “Harper’s Bazaar”, a moda “é muito rápida e está sempre a mudar”. Por isso, “é impossível acompanhar tudo o que acontece só com algumas peças-chave. Não é, de todo, económico”.
A “Glam to Glam”, o primeiro marketplace português, é um exemplo de um projeto emergente e dedicado exclusivamente à compra e venda de peças em segunda mão. Criado por Catarina Nogueira e Sara Couto, em 2017, tem como objetivo “a circulação de peças como forma de criar uma indústria cada vez mais sustentável”.
Perante a forma como o setor se tem transformado, não será de estranhar que, num futuro próximo, o aluguer de roupas já não seja apenas para casamentos ou festas. Qualquer dia, não faltará quem tenha um guarda-roupa inteiramente alugado.