Esta história contém linguagem pornográfica

Notícias Magazine

Um pouco encarnado da emoção e do escândalo que a ronda negocial com os sindicatos lhe havia provocado, o empresário bebeu um gole de água, respirou fundo e preparou-se para concluir a curta declaração que acedera a fazer aos representantes da imprensa.

Em poucos minutos, vários jornalistas em situação de subemprego reproduziriam nas edições online e nas redes sociais a definitiva sentença do engenheiro Saraiva Perdigão: «A economia do país e as patrióticas empresas que garantem o emprego dos cidadãos não têm condições de pagar aos trabalhadores uma tal exorbitância.» Alguns plumitivos acrescentaram um ponto de interrogação à frase.

Perdigão suportou estoicamente o relampejar dos flashes, procurou sorrir e consultou as horas no cronógrafo B*******g (3790 euros). Queria terminar as compras de Natal e garantir que a família desfrutaria de uma noite de consoada cheia de paz e felicidade em Cristo, mas um empresário anda sempre com o tempo contado, tantos os afazeres e arrelias que constantemente o cercam.

Necessitou, por isso, de recorrer ao bom gosto da sua secretária pessoal e ao milagre do comércio eletrónico. Deste modo tão prático e sem chatices ou reivindicações, o filho mais novo de Saraiva Perdigão recebeu uma camisa sem colarinho da T***************a (812 euros) e um par de botas T**’s (386 euros). A filha encontrou na chaminé uma mochila D********2 (675 euros) e uma camisa M******’******a (582 euros). O rapaz mais velho teve um casaco S***i (1520 euros).

A esposa enterneceu-se com a chave de um SUV da marca P*****e (68 817 euros, IVA incluído). E a amante do senhor engenheiro adorou o sobretudo Y*** *i (2540 euros). Na noite do Natal, enquanto abria um Madeira Verdelho de 1880 (950 euros), Saraiva Perdigão dissipou qualquer dúvida que ainda tivesse: a maioria dos seus funcionários não vale um par de botas nem um Porto Vintage de 1970 (590 euros).

Nota do autor: embora pareçam mentira, os produtos referidos e os respetivos preços são totalmente verdadeiros. E a economia aguenta.