Elon Musk: o visionário radical

Brian Snyder/Reuters

Criança prodígio, estranha, propensa a obsessões, agarrada a livros, vítima fácil de bullying na escola, passava o tempo a construir foguetes e a tentar fabricar explosivos. Um tweet obrigou-o a renunciar à presidência da Tesla.

Promete a conquista de Marte, prepara viagens interplanetárias, arquiteta habitats humanos noutros planetas, crê que a idade das trevas tomará de novo a Terra. Na luta contra o aquecimento global – que é também negócio chorudo -, aposta na massificação de carros elétricos, de cEasas sustentadas com energia solar e de túneis subterrâneos equipados com skates elétricos para transporte de pessoas e de carros.

Imaginação radical que, aliada a perseverança, frieza e a 100 horas semanais de trabalho, faz dele “o mais bem-sucedido empreendedor no mundo”, escreveu o “The New York Times”. Um caso peculiar, mesmo entre os maiores de Silicon Valley, conseguindo criar três companhias com valor de mercado a rondar o bilhão de euros – a PayPal, a SpaceX e Tesla Motors -, feito raro.

Dito isto, os tempos não estão fáceis para Elon Musk, 47 anos, fortuna estimada em 18 bilhões de euros. Depois do processo movido por um dos mergulhadores do resgaste dos rapazes presos numa gruta da Tailândia, a quem apodou de pedófilo, e dos prejuízos na Tesla, os efeitos nos investidores e no mercado provocados por um tweet de agosto, no qual anunciava a intenção de retirar a empresa da bolsa, obrigaram o regulador de mercados americano a abrir uma investigação.

O processo, fechado agora, ditou o afastamento de Musk da presidência da Tesla e o pagamento de multa de 17 milhões de euros, a que se somam mais 20 milhões a cargo da empresa. Em vésperas de conhecer o veredicto, Musk, que manterá o lugar de CEO, afirmava ao “The New York Times”: “O ano que passou tem sido o ano mais difícil e doloroso da minha carreira”.

Nascido em Pretória, África do Sul, em 1971, filho de um engenheiro e de uma modelo muitas vezes ausentes, Elon cresceu sozinho, “educado por livros”, fascinado por ficção científica e por computadores. Era uma criança prodígio, estranha, propensa a obsessões, vítima fácil de bullying na escola, que brincava a construir foguetes e a tentar fabricar explosivos.

Aos 11 anos, vendeu a sua primeira invenção – um videojogo – por perto de 500 euros. Foi o início de uma história que arrancaria a sério 13 anos depois, em 1995, ano em que funda, já licenciado em Física e Economia, a Zip2. Uma empresa de software de mapas digitais de cidades do Canadá, país onde vivia desde os 17 anos, com a mãe, já então incompatibilizado com a autoridade paterna.

Pai de seis filhos, a perda do primeiro deles, em 2002, voltou-o mais do que nunca para as empresas. Assim se tem mantido e não há quem espere vê-lo mudar de atitude.

Na madrugada de domingo, dia 30, poucas horas depois de a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos encerrar o caso e anunciar o castigo, Musk enviou um e-mail a todos os funcionários da Tesla, pedindo-lhes que fossem trabalhar nesse dia, apesar de ser fim de semana. “Mais um dia de trabalho duro e a vitória é nossa! Go Tesla”, escreveu.