A dor neuropática não é uma dor, é uma doença

Afeta o sistema nervoso sensitivo, tem um enorme impacto na vida dos doentes e das suas famílias e também pode atingir os diabéticos.

Os primeiros sinais manifestam-se no corpo. Formigueiro, dormência, picada, queimadura, choque elétrico são os sintomas da dor neuropática que resulta de uma lesão ou de uma doença que afeta o sistema nervoso sensitivo. Pode manifestar-se após um Acidente Vascular Cerebral (AVC), uma cirurgia ou até mesmo em pessoas diabéticas. Chama-se dor, mas é uma doença. E, com bastante frequência, torna-se crónica.

“A dor neuropática tem impacto em muitos aspetos da vida das pessoas com dor crónica e das suas famílias: ansiedade, depressão, perturbações do sono, perda de capacidade para atividades diárias, com diminuição da qualidade de vida, absentismo laboral, reformas antecipadas e custos elevados com os cuidados de saúde”, explica Beatriz Craveiro Lopes, anestesiologista e fundadora da Unidade Dor do Hospital Garcia de Orta, em Lisboa.

Cerca de 37% dos portugueses sofrem de dor crónica e neuropática. Esta doença tende a aumentar com o envelhecimento e permanece subdiagnosticada

É uma doença que compromete a qualidade de vida e a capacidade de agir. O sono altera-se, o humor fica perturbado, a capacidade funcional fica reduzida. Estudos feitos demonstram que 44% das pessoas com esta patologia sentem dificuldade em adormecer ou acordam durante a noite e têm dificuldade em voltar a dormir. E mais de metade, 59,2%, sente ansiedade ou depressão moderada a grave.

“Não há forma de prevenir esta doença, pois a patologia resulta de lesão. A dor neuropática pode ter origem num evento agudo (trauma) ou numa doença sistémica, como a diabetes (neuropatia diabética dolorosa), doença renal, doenças da tiroide, cancro ou VIH Sida)”, adianta a especialista.

Mais de metade dos doentes sofre de ansiedade ou depressão moderada a grave

Esta dor tem tratamento com os medicamentos adequados para cada caso. Por vezes, pode ser necessário mais do que um medicamento para controlar a dor e o tratamento pode incluir medicação que não é usada habitualmente noutro tipo de dores. “Podem ser usados medicamentos com outras indicações, como por exemplo antidepressivos e antiepiléticos”, adianta Beatriz Craveiro Lopes.

A toma correta da medicação, aliada a uma dieta saudável e atividade física regular, alivia a dor e melhora a qualidade de vida. É importante divulgar mais informações para aumentar o conhecimento em torno da doença e melhorar comportamentos e atitudes perante a dor. “Neste sentido, são muito importantes as campanhas de sensibilização que visam aumentar a literacia e melhoram os comportamentos em saúde, com melhor adesão à terapêutica e consequente impacto positivo nos resultados”, sublinha.

As farmácias Holon lançaram recentemente a campanha “Dor Neuropática: Há muitas formas de a sentir” precisamente com o objetivo de dar a conhecer os sintomas da dor neuropática e informar que se trata de uma doença e não de um sintoma.