
Texto Sara Dias Oliveira | Fotografias de Shutterstock
A mandíbula foi criada para mastigar e falar. Tudo o que esse osso móvel faça além da conta – as chamadas parafunções – pode refletir-se em várias zonas do corpo. Cefaleias, zumbido nos ouvidos, alterações no sono, dentes a abanar, tonturas? Tudo isso pode estar relacionado com o que a mandíbula faz e não devia.
O corpo é uma máquina programada para uma forma de funcionar, o que saia fora disso, ou seja exagerado, repercute-se na saúde. Range os dentes? Não devia. Mastiga pastilhas elásticas? Não devia. Há coisas que não são aconselháveis. Como roer as unhas.
«A mandíbula existe para mastigar e falar, todas as outras funções alteram o sistema. Os músculos cansam-se sem haver uma causa, uma necessidade, um objetivo», diz o médico João Correia Pinto.
«A mandíbula existe para mastigar e falar, todas as outras funções alteram o sistema. Os músculos cansam-se sem haver uma causa, uma necessidade, um objetivo», explica João Correia Pinto, médico especialista em Estomatologia, docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e um dos membros da organização do congresso internacional que hoje e amanhã analisam estes temas na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Há funções além das funções previstas que desgastam a mandíbula e trazem complicações. Ranger os dentes sem qualquer explicação, o bruxismo, como é conhecido, mascar chicletes que prolongam a mastigação além do previsto, uma má postura ao computador, apoiar a cara na mão com o cotovelo em cima da secretária, dormir sem almofada ou com almofada muito alta, são posturas e hábitos que mexem com a mandíbula que, por sua vez, mexe com a cabeça, os ouvidos, o equilíbrio. Falamos então, em termos técnicos, em disfunção temporomandibular e dor orofacial.
As unhas não devem ir à boca para serem roídas. Não se deve roer o lábio ou a língua, cerrar e rilhar os dentes em tempos de ansiedade ou tensão emocional ou sem qualquer motivo aparente.
A mandíbula não deve estar contraída, em tensão, é um osso móvel feito para estar solto.
«Qualquer estrutura do nosso organismo tem uma durabilidade, não há nada que seja eterno, temos de fazer com que esse desgaste seja considerado normal», refere o médico.
Numa primeira consulta, tenta-se perceber os sintomas, detetar erros, dar sugestões numa atitude preventiva. Para que a mandíbula não faça mais do que aquilo a que está destinada, não faça horas extraordinárias sem sentido.
As unhas não devem ir à boca para serem roídas. Não se deve roer o lábio ou a língua, cerrar e rilhar os dentes em tempos de ansiedade ou tensão emocional ou sem qualquer motivo aparente. Há casos em que os dentes ficam sem esmalte e reduzidos a metade. João Correia Pinto aconselha a ter horário de dormir, a dormir de barriga para cima ou de lado com uma almofada da altura do ombro.
Estes assuntos estão em destaque num congresso internacional sobre disfunção temporomandibular e dor orofacial que terá lugar na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, hoje e amanhã.
Centenas de especialistas nestas áreas, estomatologistas, dentistas, fisioterapeutas, estão reunidos para debater os temas, partilhar opiniões e trocar experiências. Lourdes Maniegas falará de roconpatia e apneia do sono no sábado pelas 11h15 e pouco depois Eduardo Myashita abordará a reabilitação dos dentes. Nesse dia, os americanos Richard Ohrbach e Jay Shah centrarão as suas intervenções na evolução da patologia, em mecanismos para a terapia da dor e estratégias de tratamentos no futuro.