Texto de Sara Dias Oliveira
Um bolo de chocolate é a analogia que Ana Fonseca e Brimet Silva, arquitetos de formação, usam para explicar o que fazem no Digitalab, ateliê de design e arquitetura instalado na Oliva Creative Factory, em São João da Madeira. A dupla faz design generativo e cria candeeiros contorcidos de malha de cortiça, candeeiros de vidro que refletem formas nas paredes, bancos com assentos de madeira que parecem ter vida, mesas modulares com várias funcionalidades, paredes e fachadas orgânicas feitas com casca de sobreiro.
O bolo tem uma receita, as regras e as ordens: são os algoritmos usados para escolher formas e desenhos no computador. No fundo, é o processo para escolher as melhores soluções e a tecnologia de cada projeto. Os ingredientes são os parâmetros, as tentativas e erros até à peça final. “Generativo significa criar. Usamos muito esta relação com o digital e o analógico. É uma relação muito sincera e honesta. É um digital muito para lá da ferramenta”, refere Brimet Silva.
É um digital com conteúdo. “Encontramos no digital uma forma de materializar ideias que humanamente não conseguimos processar sozinhos”, diz Ana Fonseca. A tecnologia ao serviço do design. “É uma extensão do nosso pensamento. Tiramos partido da capacidade de processamento que essas tecnologias nos proporcionam”, acrescenta. É criatividade com uma base científica consistente. E o Digitalab não tem receio de começar de novo. “A nossa identidade tem a ver com o não ter medo de experimentar.”
A ligação ao tecido industrial é constante e a dupla de arquitetos faz questão de perceber as formas como as matérias-primas são trabalhadas: vão às fábricas, fazem vídeos, tiram fotografias que acabam por também fazer parte da história de cada peça. “Vamos percebendo como a indústria funciona e incorporamos esse ‘know-how’ no processo criativo. Há uma partilha de conhecimento”, sublinha a arquiteta. “Estamos a criar uma simbiose. Deambulamos entre o analógico e o digital”, resume Brimet.
Ana e Brimet conheceram-se no primeiro ano do curso de Arquitetura da Universidade de Coimbra, passaram um ano em Erasmus na Alemanha, numa universidade tecnológica de Aachen, e foi aí que aprofundaram o interesse pelas tecnologias digitais.