Diana Matos: «Just dance, dance, dance»

Texto Patrícia Tadeia

Aos 30 anos, concretizou aquilo que muitos apenas sonham. «Di» para os amigos é a melhor bailarina portuguesa da atualidade e por esta altura viaja pelo mundo em tour com Justin Timberlake. O mesmo Justin que idolatrava na adolescência. Cresceu a ouvi­‑lo e a criar as suas próprias coreografias para as músicas da estrela norte­‑americana. Mas a paixão pela dança não nasceu aí.

«Desde pequenina que tinha muita energia nas aulas, os professores queixavam­‑se e diziam que a melhor forma de libertar essa energia era fazer algum desporto ou alguma atividade. Então a minha mãe inscreveu­‑me nas aulas de dança, de hip hop, e eu apaixonei­‑me logo», conta.

Uma paixão que a fez enfrentar os pais quando optou por seguir a carreira de bailarina assim que terminou o ensino secundário. «Venho de uma família tradicional africana e foi difícil para o meu pai perceber que eu queria seguir esta área, porque em Portugal não é fácil vingar na dança», explica Diana.

E foi isso que a bailarina que cresceu em Lisboa teve de fazer. Viajar para vingar. Por cá, ainda fez parte de um grupo de dança internacional, os Dance2XS, deu aulas e coreografou. Mas os desafios já eram poucos para Diana por terras lusas. E em 2011, com apenas 24 anos, vendeu o carro e mudou­‑se para Londres.

«Sentia que Portugal não estava a dar­‑me nada como artista. Resolvi arriscar. Queria crescer e ser reconhecida como bailarina.».

«Sentia que Portugal não estava a dar­‑me absolutamente nada como artista. Sentia uma frustração tremenda. Estava a passar por uma fase complicada. Como sempre quis viajar, resolvi arriscar. Agi de cabeça quente, mas tinha de ser. Queria crescer e ser reconhecida como bailarina. E para isso tinha de sair de Portugal.

Mas a decisão foi tão rápida. Não estava suficientemente estável financeiramente para a fazer. Trabalhei num bar para pagar a renda, inscrevi­‑me em agências, fiz audições. No início, ninguém te conhece, tens de fazer muitas aulas para que te conheçam», recorda Diana.

Ainda assim, bastou um mês em Londres e surgiu o primeiro trabalho: «Tive uma audição para um trabalho com Pixie Lott e fiquei.» A partir daí, não parou. «Um dos momentos mais marcantes foi nos MOBO Awards, com Jessie J., porque foi o meu primeiro trabalho comercial de alto nível. Lembro­‑me de ainda em Portugal ouvir Jessie J. e dizer que um dia ia dançar para ela.

E três meses depois de chegar a Londres estava a fazê­‑lo. Foi inesquecível. E eu quase não falava inglês na altura», confessa, a rir. Foram três anos em Londres em que até participou na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, em 2012. Pelo meio, dançou em programas como X Factor ou Britain’s Got Talent. Mas Londres já era pequena para os sonhos daquela miúda que só queria dançar.

«Estava na hora de dar o próximo passo: ir para os EUA. Mas para isso precisava de dinheiro, o visto é muito caro. Aceitei um musical de seis meses na Dinamarca, que era bem remunerado, e depois ainda um trabalho da Eurovisão, em Copenhaga. Houve momentos em que achei que não ia conseguir. Trabalhei muito. Faltava­‑me a família e os amigos. Quando tens aquele dia difícil em que não ficaste numa audição, estão todos longe… só tens o telefone ou a internet», diz Diana.

Visto tratado e novo sonho concretizado. Depois de poucas semanas em Nova Iorque, Diana percebeu que o «mercado» estava, sim, em Los Angeles. E lá foi de novo em viagem. E lá começou de novo do zero.

«Fazia umas aulas para mostrar que estava lá. Mas os trabalhos não surgiam. Até que um dia me telefonaram à meia-noite para ir a uma audição no dia seguinteDepois de um dia inteiro a dançar, com a Nicki Minaj a ver, ela acabou por me escolher para a tour. Tive de aprender 18 números de dança em quatro dias, quando as restantes bailarinas já lá estavam há mês e meio. No quinto dia, viajei para a Suécia. Foi a minha primeira tour neste nível», conta.

E a partir daí os trabalhos sucederam­‑se, como a atuação nos American Music Awards 2015. «Foi espetacular dançar com a Jennifer Lopez. É um dos momentos em que olhas à tua volta e ficas estupefacta a pensar “Estou mesmo a fazer isto?”», diz Diana, que já trabalhou com Alicia Keys, Fergie, Pharrell, Gwen Stefani ou Missy Eliot.

«Entre os momentos mais marcantes está também aquele em que dancei para a Nicki e a Beyoncé, no Tidal Event, em Nova Iorque, em 2015. Só ter a Beyoncé na mesma sala de ensaios é qualquer coisa. Ela é mesmo a rainha!», diz.

Um percurso brilhante com o qual muitos sonham, mas que poucos alcançam. «Olhando para trás, olhando para tudo, sem dúvida que o momento mais marcante da minha vida até hoje é a tour com o Justin [Timberlake]. É algo com que sonhava desde miúda.»

«Foi espetacular dançar com a Jennifer Lopez. É um dos momentos em que olhas à tua volta e ficas estupefacta a pensar “Estou mesmo a fazer isto?”», diz Diana Matos.

Mas como é que Diana alcançou o sonho? «No ano passado trabalhei com o Justin nos Óscares, adorei a experiência com ele e com o coreógrafo! Em dezembro, recebi um e­‑mail da minha agência a perguntar a minha disponibilidade para o Super Bowl e a World Tour. Cancelei todos os compromissos, era uma experiência para a vida. Todo o tempo e trabalho investidos fizeram que este momento acontecesse.

Quando menos se espera tudo se alinha», conta Diana Matos, que durante este ano vai percorrer países como França, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Bélgica, Suécia, Dinamarca, entre outros, na tour de Timberlake: «O Justin é sem dúvida o melhor chefe que alguma vez tive. Humilde, simpático, superdivertido, e respeita­‑nos bastante como artistas. É o melhor.»

Depois de tudo o que tem alcançado, Diana confessa que «é dificil perceber qual é o próximo passo». «É tudo tão inesperado! Estou realmente feliz e realizada. Quero continuar a crescer como bailarina, nunca parar de aprender. É tudo um processo e estou pronta para trabalhar para isso. Só quero ser feliz a dançar, enquanto puder fazê­‑lo estou bem.»

E, afinal, quem melhor do que Justin Timberlake para acolher Diana nesta viagem? Num dos seus maiores sucessos (Can’t Stop the Feeling!), Justin canta «just dance, dance, dance». É isso que Diana tem feito e vai continuar a fazer.

Saudades de Portugal

Aos 24 anos, Diana Matos saiu de Portugal, à procura do sucesso. «Quando estava em Portugal as pessoas valorizavam­‑me, mas não havia tanto para valorizar. Não quero ser aplaudida, só quero que percebam que tudo isto não aconteceu por pura sorte», diz. Hoje, quase sete anos depois, a bailarina está «muito feliz». E está cheia de saudades de Portugal. «Sinto muita falta do país, da energia, da cultura, da comida, da família e dos amigos que ficaram. Aprendi a aceitar que é bom sentir saudades e que sempre que possível vou aí», conclui Diana.