
Por Ana Tulha, em Marrocos
Foi no início de setembro, quando andava na Internet, a escrutinar voos pelos quatro cantos do mundo, que a vida de Sophie-Ann Beauchemin mudou radicalmente.
Num ápice, a jovem canadiana, de 22 anos, deixou tudo para trás (os três trabalhos que tinha incluídos) para ir para Marrocos dar ao pedal. O plano, que vai agora a meio, era simples: correr o país liderado pelo rei Maomé VI de bicicleta, ao longo de dois meses.
“Estudei Turismo de Aventura e trabalhava numa loja de desporto, era coordenadora de um clube de futebol de Gaspé [cidade do Canadá em que Sophie-Ann vive] e trabalhava numa empresa de aluguer de caiaques, pranchas de paddle, etc. Dava para ganhar um pouco mais do que o salário mínimo do Canadá, mas percebi que ainda não tinha feito nada de mais. E como quero ser guia turística achei que precisava de viajar sozinha para perceber o que realmente gosto de fazer nesta profissão”, contou à Notícias Magazine, em Uuarzazate, cidade do sul de Marrocos que é conhecida como a “porta do deserto” (pela proximidade com o Deserto do Saara).
Antes, tinha já estado em Casablanca, El Jadida, Essaouira, Sidi Kaouki, Agadir, Marraquexe e Mhamid. Tudo com um plano bem definido: todos os dias, começa a pedalar às sete da manhã, com o propósito de pedalar entre 80 e 140 quilómetros por dia.
“Precisava de sair da minha zona de conforto. Ando muito de bicicleta no Canadá, mas nunca tinha experimentado fazer uma longa viagem. Além disso, andava a pensar na melhor forma de viajar e conhecer pessoas durante o meu percurso. Viajo sozinha, mas a minha ideia não é estar sempre sozinha. Viajo sozinha porque sou mesmo muito tímida e acho que está na altura de ultrapassar isso”, augura.
Ao longo da viagem, vai parando onde se sente mais confortável. Por vezes acampa. Outras vezes há em que fica hospedada em hostels. E se primeiro sentiu medo por estar a viajar sozinha no meio de Marrocos (“em particular quando se via rodeada de gente, em sítios não turísticos”), depressa percebeu que os marroquinos estavam sempre prontos para ajudar.
Teve um bom exemplo disso quando a bicicleta avariou, em El Jadida. Por sorte, apareceu-lhe Hamid, um marroquino de barba e cabelo grisalho que fez bem mais do que ajudá-la com a avaria. “Liga-me todos os dias, para ver se está a correr tudo bem. É o meu pai em Marrocos”, atira, entusiasmada.

Mas, nesta aventura marroquina, nem tudo tem sido um mar de rosas. “A principal dificuldade é a língua, porque às vezes preciso de explicar alguma coisa e ninguém me compreende. Depois, é a questão de escolher um bom lugar onde possa parar. Porque há sítios em que as crianças me tentam roubar alguma coisa da bicicleta”, começa por explicar Sophie-Ann.
Já para não falar na cobiça alheia… que nada tem a ver com a bicicleta. “A última dificuldade prende-se com o facto de ser uma jovem rapariga. Muitos homens que não são casados querem a toda a força casar com uma rapariga de outro país. Para eles, nós somos só uma forma de sair do país”, atira.
Nada que esmoreça o enamoramento desta canadiana por Marrocos: “Sei que aqui as pessoas não deixam ninguém fazer-me mal. E é disso que mais gosto em Marrocos. As pessoas são amigáveis, generosas e respeitosas. Claro que há pessoas que não o são, mas isso é assim em todos os países do mundo.”