Dermatite atópica: Sílvia conta como aprendeu a viver com esta doença de pele

Dermatite atópica é uma doença cutânea e crónica. Pele seca, inflamada, prurido intenso. Sílvia Ferreira tem 27 anos, nasceu com a doença e conta como aprendeu a lidar com a situação.

Habituou-se a viver com dermatite atópica, embora evite mostrar as manchas no corpo causadas pelas feridas que surgem por coçar a pele. A personalidade despachada, de quem não se deixa ir abaixo facilmente, tem sido uma grande ajuda para lidar com o problema. Sílvia Ferreira tem 26 anos, é professora de piano, e é de Azeitão. Nasceu com eczema atópico que lhe inflama a pele.

“Quando era mais pequena, era mais agressivo. Tem vindo a melhorar com o tempo”, confessa. A fase mais complicada foi por volta dos 15, 16 anos. Chegava a não fazer educação física na escola porque ficava “assada” em algumas partes do corpo. A dermatite afetava sobretudo as zonas de transpiração, debaixo dos braços, nas virilhas. A comichão fazia-a coçar, o que provocava feridas.

“Muitas vezes, tenho uma comichão, tenho tendência para coçar, e fica uma ferida”, diz Sílvia ferreira que nasceu com dermatite atópica

Ainda hoje a dermatite dá de si nas áreas onde há mais suor, sobretudo nas axilas, atrás dos joelhos, atrás dos cotovelos. A pele seca em demasia e com isso vem o prurido. “E as feridas demoram muito tempo a sarar”, conta. E deixam manchas na pele.

Sílvia Ferreira, a quem em momentos de mais stress, a dermatite “ataca” os pulsos, garante que já aprendeu a lidar com a situação. A mãe já não precisa de avisar vezes sem conta, como fazia quando era criança, para não coçar. Sabe que a sua pele precisa de estar permanentemente hidratada.

Ao longo dos anos, Sílvia experimentou muitos medicamentos, foi a consultas com vários dermatologistas. A doença, na sua perspetiva, ainda não é suficientemente conhecida, mesmo na parte médica, para que se saiba lidar com ela com exatidão. E os dias correm. “Afeta sempre, mas tento manter-me forte”, garante.

A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, é a doença inflamatória crónica cutânea mais comum. A pele fica muito seca, frequentemente inflamada, e há um intenso prurido. Pode afetar todas as idades, mas o seu início é mais frequente no grupo etário abaixo dos cinco anos de idade.

A dermatite atópica tem uma prevalência de 2% a 5%, que aumenta para cerca de 15% em crianças e adolescentes. Quando persiste no adulto, tende a ser mais grave

“É habitualmente a primeira manifestação de doença alérgica precedendo o aparecimento de rinite ou asma alérgicas. Pode coexistir com a alergia alimentar essencialmente na idade pediátrica”, diz à NM Cristina Lopes Abreu, coordenadora do Grupo de Alergia Cutânea da Sociedade Portuguesa de Alergia e Imunoalergologia Clínica (SPAIC), alergologista no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

E como se manifesta? Varia de acordo com a idade. No latente, as lesões cutâneas atingem a face, o tronco e o abdómen. Na criança e adolescente, as pregas cutâneas nos braços e atrás dos joelhos e das orelhas, e na dobra do pescoço. Nos adultos, nas mãos, na nuca, podendo atingir outras partes do corpo.

E quais os problemas que causa? “Prurido intenso, sensação de ardor, perturbação do sono, irritabilidade, perturbação da imagem social, perturbação da qualidade de vida, podendo nos casos mais graves condicionar sentimentos depressivos e de ansiedade”, responde a especialista.

Este ano, a Semana Mundial da Alergia, de 22 a 28 de abril, foi dedicada a este problema cutâneo

A aplicação de cremes protetores da barreira cutânea pode prevenir o desenvolvimento da dermatite atópica em crianças de risco, com historial familiar. Mas ainda é um conceito em estudo.

Segundo Cristina Abreu, “a dermatite atópica parece resultar da interação de fatores genéticos (muitos doentes quando nascem já estão predispostos para ter uma pele mais frágil e sensível, com tendência a desenvolver reações exageradas contra compostos inócuos do meio ambiente – a alergia) e ambientais (exposição a poluição atmosférica, fumo de tabaco, menos exposição aos microrganismos protetores que existem no solo das áreas verdes e rurais)”.

Como tratar? Há cremes específicos que ajudam a restaurar a barreira cutânea e há cremes com corticoides e outros compostos semelhantes que desinflamam a pele. “Nos casos mais graves é necessária medicação mais abrangente (sistémica) sob a forma de comprimidos imunossupressores.”

Recentemente têm surgido novos medicamentos de utilização apenas hospitalar que parecem ser promissores porque poderão atuar de forma mais específica na desregulação do sistema imunológico que caracteriza a dermatite atópica.