Não há problema em querer ficar em casa quando há chuva lá fora, o dia está cinzento e há mantas quentinhas no sofá. A questão é outra e mais complexa quando os sintomas se repetem, o corpo amolece, e a cabeça não tem motivação.
A hora de verão muda e chega o horário de inverno, mais pesado, mais tristonho. O dia escurece mais cedo, há menos tempo de exposição solar, os corpos mexem-se menos, o organismo pede refeições mais robustas e com mais açúcar.
E os sintomas instalam-se: tristeza, fadiga, insónias, falta de motivação, raciocínio lento, ataques de choro, angústia. Tudo sinais de uma depressão sazonal que ataca sobretudo no outono e no inverno, pessoas com mais de 25 anos, mulheres e homens.
Não se conhecem as causas com exatidão, todavia a influência da luz sobre a melatonina e serotonina permitem concluir que este processo também está relacionado com um processo biológico. Menos luz no dia e temperaturas mais baixas interferem na vigília, no sono, no humor. Na forma de estar e encarar a vida. E tudo pode acontecer.
As condições do tempo mexem com aspetos biológicos que, por sua vez, podem alterar fatores psicológicos. E as depressões sazonais de outono e inverno acabam por acontecer.
A depressão sazonal é mais complexa do que essa vontade de não querer sair de casa quando o dia está cinzento lá fora. «É sempre um fenómeno multifacetado. É difícil determinar para cada pessoa, em particular, o peso dos fatores biológicos, sociais e psicológicos», refere o psicólogo Vítor Rodrigues, autor do livro Constrói a Tua Felicidade.
Cada caso é um caso, portanto. Mas quando, nesta altura do ano, o horário de inverno se instala, há sintomas preocupantes que moem o corpo e angustiam a cabeça, então é preciso atenção para perceber se há ou não um transtorno.
«São os mesmos sintomas que encontramos nas depressões em geral, mas mais manifestos e agudizados nesta época do ano». As condições do tempo mexem com aspetos biológicos que, por sua vez, podem alterar fatores psicológicos. E as depressões sazonais acabam por acontecer. Menos energia, menos contacto com a natureza, menos convívio, mais vontade de não sair de casa, menos vontade de se mexer.
A depressão tem várias terapias de tratamento, mas a memória tem armadilhas e ratoeiras que podem recordar o que é mais triste, e, por isso, o diagnóstico é importante para detetar a raiz do problema.
No entanto, é importante perceber se esses sintomas se repetem com regularidade, quando surgem, em que altura do ano, se há contextos específicos que deprimam como um luto recente, por exemplo.
A depressão tem várias terapias de tratamento, a memória tem armadilhas e ratoeiras que podem recordar o que é mais triste, e, por isso, o diagnóstico é importante para detetar a raiz do problema. «As psicoterapias ajudam as pessoas a mudar a informação, a repensar as suas vidas», diz Vítor Rodrigues. O que nem sempre é fácil.
«Aquilo que ajuda a sair da depressão é o que é tão difícil fazer para a pessoa deprimida», sublinha. Mas há sempre medidas a tomar: aumentar o contacto com a natureza, praticar desporto, evitar os açúcares na alimentação, ter contacto com a arte, conviver, recordar boas memórias, expressar emoções. Tudo ajuda para que o tempo mais escuro não tenha um efeito nefasto.