Da pistola de madeira às cabeças de manequim: sete histórias de fugas da prisão para a história

Joaquín “El Chapo” Guzmán, narcotraficante mexicano de 63 anos, começou nesta segunda-feira a ser julgado em Nova Iorque, sob fortes medidas de segurança. O vilão que está acusado de administrar o maior cartel de droga do mundo – e de fazer entrar mais de 150 toneladas de cocaína para os Estados Unidos – é um dos bandidos mais famosos à escala planetária. Entre os vários crimes cometidos, ficou também conhecido pelas duas fugas da prisão que protagonizou no México, em 2001 e 2015.

Na primeira, as teorias dividem-se: há quem diga que saiu da cadeia escondido num cesto da roupa suja, há quem defenda que saiu pelo próprio pé, envergando um uniforme de polícia, depois de um guarda da prisão de máxima segurança de Puente Grande, em Jalisco, lhe ter aberto a porta. Certo é que, na sequência da fuga, 78 funcionários da prisão, incluindo o próprio diretor, foram detidos por terem sido cúmplices.

Seguiram-se 13 anos de liberdade, até que em 2014 “El Chapo” voltou a ser capturado. Mas a reclusão não durou muito. Em julho de 2015, evadiu-se novamente, desta vez através de um túnel de quase dez metros de profundidade, que ia do duche da prisão de Toluca até uma casa em construção a 1,6 quilómetros da cadeia. A fuga foi planeada com tal pormenor que o túnel era iluminado e ventilado.

Mas a fuga de “El Chapo” está longe de ser a única evasão mediática. A história está cheia de fugas que davam filmes. No dia em que Guzmán começou a ser julgado, a Notícias Magazine recorda-lhe sete das mais espetaculares.

A pistola de madeira que iludiu tudo e todos

O americano John Herbert Dillinger tinha um currículo e peras. Entre as façanhas que lhe são conhecidas, contam-se o assalto a duas dúzias de bancos e quatro esquadras de polícias. Mas, mais do que os crimes, o que o fez ganhar fama foi a forma ardilosa como conseguiu fugir da prisão. Em 1934, depois de ter sido capturado e enviado para a Crown Point Jail, aproveitou as prateleiras da cela em que se encontrava para fazer uma pistola de madeira. Como se uma pistola de madeira enganasse alguém, pensar-se-á. Mas enganou mesmo. Primeiro, usou-a para intimar um guarda a abrir-lhe a cela, depois, fez 17 reféns e atraiu os outros guardas para a cela, acabando por os prender lá dentro. Mas a estrelinha não durou muito: três dias depois, voltou a assaltar outro banco e acabou baleado.

Centenas cavaram três túneis para fugir de Hitler

Chamaram-lhe “A Grande Fuga” e não custa a perceber porquê. O (rebuscado) plano traçado pelos soldados britânicos, para, durante a Segunda Guerra Mundial (março de 1944), fugirem do Stalag Luft III, Campo da Força Aérea Alemã, envolveu, ao todo, 600 prisioneiros. Em vez de construírem um único túnel, optaram por fazer três, com uma ideia bem definida: se um deles fosse descoberto pelos germânicos, dificilmente eles suspeitariam que havia mais dois. Só que, com mesmo com tanto detalhe, o plano esteve longe de correr na perfeição. Os túneis ficaram, afinal, curtos, na medida em que a saída ficava bem perto do posto de um dos guardas da prisão. Ainda assim, 76 presos conseguiram ver a luz do dia… mesmo que 73 tenham acabado capturados de novo. Para que o plano não se repetisse, Hitler mandou executar grande parte dos fugitivos.

À prova de fuga? Sim, sim…

Esta fuga não dava um filme, deu mesmo – “Escape from Alcatraz”, dirigido por Don Spiegel e com Clint Eastwood como protagonista. Como o próprio nome indica, aconteceu na Ilha de Alcatraz, ao largo de São Francisco (Estados Unidos). Era considerada uma prisão “à prova de fuga”, mas o epíteto não demoveu Frank Morris e os irmãos Clearence e John Anglin. Mesmo que tenham levado quase um ano a preparar o grande dia. Para fazer buracos nas paredes das celas, recorreram a colheres. Depois, para que os guardas não dessem pela falta deles, fizeram cabeças de manequim com pasta de papel e cabelo verdadeiro. Só não se sabe se sobreviveram à água gelada de São Francisco, visto que nunca foram encontrados. Aconteceu em 1962.

Seis pistolas, um camisão e um ataque cardíaco

Duas décadas depois, foi a Her Majesty’s Prison Maze, na Irlanda do Norte, a ser palco de uma fuga espetacular, desta vez com militantes do IRA (Irish Republican Army) como protagonistas. Apesar de se tratar de uma prisão de alta segurança, os fugitivos conseguiram fazer entrar seis pistolas na prisão, que, a 25 de setembro de 1983, lhes permitiram assumir o controlo do estabelecimento prisional. Além de fazerem os guardas reféns, apoderaram-se de um camião que fazia o abastecimento de comida da prisão. Ao todo, fugiram 38 presos. Vinte guardas ficaram feridos e um morreu, devido a um ataque cardíaco sofrido durante a fuga.

O amor como passaporte para a liberdade

Esta história é ainda mais atípica. Em 1994, Randolph Franklin Dial, prisioneiro no Oklahoma, arranjou uma cúmplice que o ajudou a planear a fuga perfeita. A parte mais cinematográfica da coisa é que a cúmplice era… a mulher do diretor do estabelecimento prisional em causa. Só que, aparentemente, o amor não olha a grades. E assim Bobbi Parker, a cúmplice apaixonada, não hesitou em deixar a vida que tinha para trás e em ajudar Randolph a fugir da prisão. Só foram descobertos 11 anos depois, quando alguém foi dar com eles numa casa pré-fabricada, no Texas. E com nomes falsos, claro.

Um abre-latas com vista para o céu

Se houvesse um prémio para os fugitivos mais criativos, o americano Ralph “Bucky” Phillips seria certamente um candidato à vitória. Isto porque conseguiu fugir da prisão graças a um… abre-latas. Verdade, usou-o para abrir um buraco no telhado de metal da cozinha do estabelecimento prisional de Erie County (Nova Iorque) e escapar para o parque de estacionamento dos visitantes. Depois, foi só dar corda aos sapatos. Seguiram-se cinco meses de fuga, antes de ser apanhado. Nesse período, matou um soldado americano e feriu mais uns quantos.

Fugiram pela janela e tramaram-se à conta dos telefones

Foto: José Carmo/Global Imagens

Neste caso, o enredo não tem os requintes de malvadez de outras histórias à escala internacional. Mas, por se ter passado bem mais perto, dificilmente cairá no esquecimento. Aconteceu no Tribunal de Instrução Criminal, no Porto, a 19 de outubro deste ano. Três suspeitos de 30 assaltos a idosos, detidos em flagrante, subiram por uma escada interior até uma sala do segundo andar do TIC, abriram a janela, saltaram para o terraço do primeiro andar e daí para a rua, antes de apanharem um táxi. Ter-se-ão depois escondido num parque de campismo de Gondomar, mas, menos de 24 horas depois, foram apanhados. Culpa dos telemóveis que decidiram comprar pelo caminho… e que rapidamente foram rastreados pela PSP.