Em 1927, Lisboa pôs fim à hora da cocaína

Clodomiro Leal e Joaquina de Sousa. Estas fotografias dão conta da condenação de dois lisboetas, por venda de estupefacientes, a 25 de maio de 1927.

Ainda que não passasse de um pequeno delito – «era um frasco com trinta gramas da substância, escondido debaixo de um vaso num quarto andar da Rua Damasceno Monteiro» –, o caso mereceu destaque no Diário de Notícias daquele dia. Sobretudo por isto: a substância era altamente tolerada e estava a deixar de o ser.

Desde o final do século XIX que o consumo de cocaína se tinha institucionalizado nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Vários cientistas, Sigmund Freud incluído, advogavam a sua utilidade farmacológica.

A cocaína era vendida como remédio, em rebuçados, anunciada livremente nos jornais.

A cocaína era vendida como remédio, em rebuçados, anunciada livremente nos jornais. A partir do início do século passou a ser também usada de forma recreativa, sobretudo pelas elites da época.

É no início da Primeira Guerra Mundial que o Ocidente toma a dianteira de proibir a substância. Em Portugal também, ainda que continuasse a ser largamente consumida à porta fechada, e de, segundo o Diário de Lisboa, haver até uma hora da cocaína.

A partir das três da manhã, nos bares onde os lisboetas dançavam o charleston, a polícia tolerava o consumo. No final de 1926, a PSP afixa cartazes à porta dos bares e a cocaína passa a estar definitivamente proibida. Por isso é que a prisão de Clodomiro e Joaquina foi importante. A festa tinha chegado ao fim.